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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Contextualização Missionária

Barbara Helen Burns

(Disponível em http://www.preparomissionario.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=53&Itemid=56 , em 25 de setembro de 2010). 

            A palavra "contextualização" soa bonito em português. Logo entendemos o sentido: "contexto", "dentro do contexto", "adaptação ao contexto", "processo de se entender com o contexto". A facilidade da palavra, no entanto, é enganosa, pois não existe uma definição certa. O dicionário do Aurélio não traz nenhuma menção da palavra, e os vários livros e artigos que tratam do assunto põem nela significados diferentes e particulares. Por isso falamos de "contextualização missionária", "contextualização cristã" ou "bíblica" para realmente distinguir nossa intenção do uso da palavra no contexto evangélico e missionário.

 
 

Definições

            "Contextualização" foi usada pela primeira vez em 1972 por Shokie Coe, diretor da Fundação de Educação Teológica (FET) do Concílio Mundial de Igrejas. Enviou uma carta aos seminários e institutos bíblicos ao redor do mundo oferecendo ajuda com literatura e outros meios para que as escolas de educação teológica pudessem "contextualizar" os seus programas. Para ele "contextualizar" era fazer a Palavra de Deus, que a Bíblia apenas contém se tornar relevante no contexto. A ênfase da FET era o contexto em que a Bíblia deveria se adaptar. Esta relativização bíblica já tinha larga aceitação no meio das igrejas conciliares, mas foi rejeitada pelos evangélicos. A palavra "contextualização", porém, foi aceita e desenvolvida.

            O primeiro evangélico a usar a palavra contextualização foi Byang Kato, um líder africano. Na sua palestra em Lausanne I (1974) ele enfatizou a necessidade de transmitir o evangelho em termos relevantes à cultura receptora, ao mesmo tempo cuidando para não fazer sincretismo. Ele estava preocupado com o perigo da contextualização criar uma distorção do evangelho e da teologia. Cultura é importante, mas na transmissão da verdade a mensagem e sua aplicação prática têm que ser fiéis à Bíblia. A cultura tem que se adaptar à Bíblia e não vice versa. Por isso Kato apresentou dez fundamentos para a contextualização na África.

1. Deve-se permanecer com os pressupostos fundamentais do cristianismo histórico.

2. Deve-se expressar cristianismo no contexto africano, deixando que o julguem. Não devemos permitir que a cultura tenha precedência sobre cristianismo.

3. Deve-se ensinar as Escrituras e as línguas originais para que eles possam fazer uma exegese correta da Palavra de Deus. O africano também pode aprender hebraico e grego.

4. Devem-se estudar as religiões não-cristãs, lembrando que é secundária, como foi para os evangelistas no Novo Testamento.

5. Deve-se fazer evangelismo agressivo, não repetindo os erros dos líderes da igreja africana do 3º Século, quando se envolveram demais em discussões doutrinárias.

6. Devem-se formar organizações baseadas naquilo em que concordam. Não deve ser "unidade, seja a qualquer preço".

7. Devem-se definir termos teológicos para evitar sincretismo.

8. Devem-se combater cuidadosamente os sistemas não-bíblicos que estão entrando nas igrejas.

9. Deve-se envolver em ação social, mas não às custas da evangelização. Conversões verdadeiras resultam em cristãos que revolucionam as suas sociedades.

10. Deve-se saber que a África precisa dos seus Policarpos, Atanásios, e Martinhos Luteros que estão prontos a defender a fé, seja a que preço for.[1]

            Após o momento histórico do Lausanne I, o termo contextualização alastrou-se tanto em círculos evangélicos, como na Teologia da Libertação, na Igreja Católica Romana, em outros movimentos nacionalistas e, no presente momento, até no mundo secular. Cada grupo adotou a palavra e usa-a conforme seus objetivos e motivos. A definição e preocupação de Byang Kato, no entanto, ainda serve como uma base para a avaliação do uso do conceito de contextualização entre evangélicos.

            Kato e outros missiólogos evangélicos adotaram a palavra em grande parte para expressar a necessidade da transmissão relevante da Palavra de Deus sem abrir mão da sua veracidade e aplicabilidade em todas as culturas. Hoje em dia temos muitos recursos que nos ajudam fazer o processo de tornar os ensinamentos da Bíblia claros e relevantes às pessoas em outros contextos. Nos últimos anos muitos livros e artigos foram escritos sobre a contextualização e as escolas de missões estão incluindo este assunto nos seus currículos. O ano passado 52 missiólogos foram convocados pelo Comitê de Lausane para discutir sobre contextualização. (Outra convocação foi feita em Willowbank, Bermuda em 1978. O resultado de Willowbank é o livro O Evangelho e a Cultura, Série Lausanne 3. ABU Editora e Visão Mundial, 2ª edição, 1985.) O editor da revista de Lausanne World Evangelization descreve a palavra assim:

 
 

. . .para construir sob Willowbank, e procurar uma compreensão mais profunda em mudar de contextualização como um método para contextualização como um estilo de vida e aprendizado, e uma maneira de ser totalmente humano. Contextualização deve ser uma atitude de risco baseado no reconhecimento que Jesus escolheu a confiar as boas novas do evangelho para seres humanos falhos.

            Contextualização deve ser uma atitude de interdependência, crendo que nenhuma cultura pode enxergar seus próprios pontos cegos e que cada cultura tem algo a oferecer para todas as outras culturas.

            Contextualização é também um verbo: Uma comunidade de crentes ouvindo, compartilhando, aprendendo e reprovando uma a outra pela possibilidade de descobrir um entendimento mais profundo do evangelho do reino (World Evangelization. Nº 80. Setembro/outubro de 1997).

            O que distingue evangélicos é sua dependência na Bíblia com a autêntica Palavra de Deus, inspirada e verdadeira. A própria Palavra trata profundamente do assunto e deve nos ajudar na compreensão da contextualização. De verdade a melhor fonte de compreensão do assunto é a própria Bíblia.

 
 

Contextualização na Bíblia

            Na Bíblia há contextualização. Na busca das nações, o próprio Deus se preocupa em comunicar e agir com sabedoria e prudência (Ef. 1:8). Ele formou uma nação (Israel) em que Sua presença era visível à todas as nações.  A finalidade da escolha dela era que manifestasse a glória de Deus ao mundo pela sua santidade e os atos poderosos de Deus (inclusive castigos) no seu meio. Também tinha que "anunciar (verbalmente) a glória de Deus às nações" (Sl 96:3).

            A vinda de Cristo em corpo humano é o maior exemplo na história de contextualização. Filipenses 2:1-11 descreve como Jesus deixou sua posição, sua glória, sua "pátria" e consentiu em ser humano, com osso e carne, sede, fome, cansaço e dor. Andou nas estradas poeirentas da Palestina, falando com os discípulos, com as multidões e operando milagres e livramento. Ele morreu como um criminoso comum, rejeitado e objeto de escárnio. Deus veio em Cristo na encarnação, em uma identificação profundíssima com a humanidade, e atravessou o abismo de separação entre os dois. Jesus comunicou e foi compreendido, deixando que os seus discípulos e a Igreja continuassem como agentes da transformação.

            Após a vinda de Cristo, a Igreja deveria continuar a busca das nações e anunciar a elas a grandeza, majestade, bondade, graça e amor de Deus. Esta igreja "está no mundo, mas não é do mundo" (Jo 17). É também sacerdote de Deus no mundo, como Israel (Ex. 19:5-6 e 1 Pe. 2:9). Esta "nação santa" é claramente enviada ao mundo nos pronunciamentos finais de Jesus. A razão da existência da igreja é cumprir estas ordens missionárias dadas no clímax da formação dos discípulos de Jesus quando da Grande Comissão em Mateus 28:18-20, e outros lugares.

            Deus, portanto, não escolheu a Igreja para fazer um gueto, mas logo no início lançou os primeiros seguidores de Jesus para os quatro ventos - através de instruções (Mt. 28:18-20; Atos 1:8, etc.), perseguição (At 8) e a escolha de certas pessoas como apóstolos ou missionários. Barnabé e Saulo começaram a primeira viagem de missões transculturais para os gentios, enviados pela igreja de Antioquia. O relato das suas viagens missionárias em Atos impressiona na maneira em que eles obtiveram o seu objetivo: falaram em termos compreensíveis aos ouvintes, deixaram igrejas organizadas com liderança local, e chamaram outros a seguir a trilha missionária junto com eles.

            Isto não significa que tudo era sem problemas. Às vezes as novas igrejas não entendiam as doutrinas (como em Tessalônica) ou distorciam o que ouviam (Gálatas). Paulo preveniu fortemente os líderes da igreja de Éfeso sobre o perigo de falsos mestres, que surgiriam do próprio grupo (At 20:29-31).  Ele plantava igrejas autóctones, nacionais, relevantes na cultura, mas não tinha a ilusão de pensar que relevância bastasse. Os novos membros das igrejas tinham que ter as suas vidas arraigadas nas verdades de Deus. Por isso Paulo ensinava dia e noite (At 20:31), tudo que ele sabia (At. 20:20, 27) e estabelecia firmes fundamentos doutrinários e de conduta cristã.

            Nestes exemplos e ensinamentos sobre a contextualização missionária de Jesus e dos apóstolos, especialmente Paulo, podemos aprender muito sobre o assunto. Parece que há um processo repetido, com dois passos principais. Primeiro há a identificação do mensageiro com o povo receptor; depois há o confronto com o mal e a tentativa de levar as pessoas à transformação.

            Jesus primeiro veio à terra em forma humana, encarnando-se no meio dos homens e das mulheres. Depois efetuou pela palavra e pelo seu sangue a transformação. Ele não veio simplesmente para passear conosco, ou "curtir" um pouco de papo com os homens. Ele veio com uma missão: salvar os homens, levando-os ao arrependimento, perdão dos pecados e nova vida em Cristo.

            No dia a dia de Jesus podemos observar esta estratégia a se cumprir. Ele fala sempre usando a linguagem conhecida do templo, da plantação, de festas e das Escrituras. Ao mesmo tempo Ele confrontava, denunciando o pecado, o orgulho e o egoísmo. Jesus foi à casa do fariseu, mesmo sendo provável objeto de ridicularização. Aproveitou o contexto do banquete para usar a linguagem do momento ao falar de banquete, de convites e recusas, e da ansiedade do Dono (Deus) em encher a mesa até com os de fora, apesar dos primeiros convidados (neste caso os ouvintes mesmo) insultar o Anfitrião (Lucas 14).

            Quando dois dos seus discípulos queriam ser os primeiros no reino, ele chamou a atenção quanto ao desejo de posições, status e títulos (Mt 20 e 23). Para tanto ele usou dois maxi-sistemas culturais para ilustrar o errado: o sistema religioso dos fariseus e o sistema governamental dos romanos. Ele não elogia a identificação com estes sistemas, mas deixou claro que os discípulos não podiam agir de igual modo. Jesus lavou os pés dos discípulos, quebrando um costume enraizado na cultura, e falou que eles também tinham que fazê-lo. Em vez de se submeter a estes sistemas importantes na cultura, ele ensinava que a igreja não é assim. Não podemos seguir sistemas culturais que são contrários aos ensinamentos de Deus. É para ser uma igreja diferente —mensageiros da reconciliação com Deus e a libertação deste mundo, sal na terra e luz nas trevas.

            A Bíblia descreve nosso mundo como trevas. Idolatria, opressão dos outros, adultério, homossexualismo, homicídio, mentira, ira, orgulho, blasfêmia, maledicência e muitas outras coisas marcam este mundo. As culturas ao redor do mundo foram contaminadas pelo pecado que entrou no mundo com as mentiras de Satanás e a desobediência de Adão e Eva. Entre os costumes dos povos há muitas coisas boas, positivas, que demonstram que fomos feitos à imagem de Deus, mas muitas outras coisas são provas da queda da humanidade e a fatal inclinação à desobediência.  Carecemos todos da glória de Deus (Rm 3:21)! Somos todos mortos e escravizados sem Cristo, sem esperança e sem Deus (Ef 2:1-5, 11-23; 1 Pe 1:14-15). Precisamos de perdão e transformação. É nesta transformação que é formado um novo povo, um "templo" que efetua a sua própria edificação no Senhor (Ef 4:12-16). Deus cria uma nova cultura no seu povo - uma cultura com santidade e pureza, de pessoas que manifestam a glória de Deus nas suas vidas e nas suas comunidades eclesiásticas, à vista dos vizinhos, dos parentes, das cidades e das nações. Em Éfeso os novos convertidos trouxeram seus apetrechos idólatras e os queimaram em público. Outros "maravilharam-se" com a transformação dos crentes. Muitos se ajuntaram à igreja de Jerusalém após ver a linda transformação de tantas vidas e a nova comunidade cheia de alegria e amor.

            É claro, portanto, que contextualização não é seguir cultura; é viver na cultura e utilizar a cultura na comunicação, mas para levar as pessoas à transformação e à formação de uma outra cultura— uma comunidade que se chama Igreja.

            Através da história esta nova comunidade tem crescido (o que é feito através de missões). Às vezes a comunidade se tornou gueto, sem contato com a cultura em que existia, e certas vezes perderam a sua identidade numa identificação exagerada com a cultura. É difícil descobrir a linha equilibrada no meio, mas podemos aprender com os antepassados que já lutaram com os problemas da contextualização.

 
 

Contextualização na História de Missões

            Desde o início, missionários enfrentam o mesmo dilema: "Como explicar as verdades de Deus, que eu aprendi dentro do meu contexto e na minha linguagem, para pessoas que estão em outro contexto e falam outra língua?" A resposta é simples: não é fácil!

            Na história de missões temos exemplos de todo tipo de contextualização. Temos o tipo da "não-contextualização", aonde o missionário chega e impõe a totalidade das suas crenças junto com os costumes religiosos e do cotidiano do missionário. Ele passa costumes quanto à comida, vestimenta, horários, estilo de arquitetura, posição dos participantes de cultos e assim por diante. Dentro dele há uma certeza de que este povo é inculto, não sabe de nada e tem que aprender do zero como viver certo. Ele não pergunta, não ouve, não se interessa em saber os mitos, as crenças, a história, os anseios, as dificuldades ou as alegrias do povo. Ele não se importa com os porquês dos costumes do povo. Ele, simplesmente, é o certo e o dono da verdade. Infelizmente, na história, temos exemplos de missionários (não evangélicos, espero) assim que até usaram a espada para convencer os nativos a se converterem e serem batizados.

            Do outro lado havia os missionários que romantizavam a cultura. O missionário vai, aprende com cuidado a língua e os costumes. Ele acredita que o Deus dos cristãos se manifestou na religião daquele povo, portanto basta ficar com eles e ajudá-los continuar nas suas práticas, expressando-as até mesmo em uma igreja cristã, mas sem necessidade de transformação. Muitos missionários foram para servir em um lugar, e até ajudou com agricultura, hospitais e escolas, porém sem ajudar o povo a entender a necessidade da salvação.

            Alguns exemplos na história podem nos ajudar a descobrir o caminho certo entre os dois extremos. Um exemplo impressionante de contextualização era o trabalho dos morávios no Século XVIII. Eles se espalharam ao redor do mundo e com muita naturalidade participaram do cotidiano das pessoas que viviam nos lugares aonde chegaram. Eram carpinteiros e plantadores e sempre ajudavam as pessoas na medida em que podiam. A identificação deles era marcante, porém levaram a mensagem firme da salvação em Cristo.

            Guilherme Carey, o "Pai das Missões Modernas" deixou outro exemplo de contextualização. Chegando à Índia passou grandes privações, até mesmo fome. Com isso precisava trabalhar junto com o povo para ganhar seu pão. Com este início difícil, Carey prosseguiu para marcar a cultura do sub-continente indiano no seu total. Fez umas descobertas de hortelagem para mostrar que, ao contrário do conceito hindu de maya  (ilusão), a natureza era boa. Também introduziu o primeiro banco de investimentos e o primeiro jornal publicado em uma língua oriental. Introduziu astronomia para confrontar o impacto negativo de astrologia e seus fatalismos. Ajudou na criação de bibliotecas para que as pessoas pudessem ter acesso ao conhecimento. E de forma marcante, conseguiu convencer o governo a abolir a prática de sati, onde as viúvas eram sempre cremadas vivas com os corpos dos seus maridos. Para Carey o evangelho tinha que permear a totalidade da vida— na praça, no mercado, no laboratório, e na vizinhança.[2] E ele usava não só a palavra, mas agiu de formas concretas para confrontar o domínio do hinduísmo sobre a mente e vida do povo.

            Carey sabia que para ter uma igreja forte, tinha que ter líderes indianos. Por isso dedicou a maior parte da sua vida traduzindo a bíblia e formando escolas de preparo ministerial. As pessoas falam que Carey era "um simples sapateiro", mas não sabem que desde criança Carey investia no aprendizado: línguas, geografia, teologia, história e missões. Ele conhecia tanto a história dos Morávios como a do Capitão Cook, um grande explorador inglês. Enquanto concertava os sapatos na juventude e depois, Carey decorava o vocabulário grego e estudava o mapa mundi pendurado na parede ao seu lado, que ele mesmo tinha feito de couro. Era professor de escola primária e pastor, concertando sapatos apenas porque o seu salário não supria as necessidades da sua família de cinco filhos. Tudo isto preparou o futuro missionário pioneiro, e ajudou-o a conseguir grande êxito na sua carreira missionária.

            Hudson Taylor também queria quebrar barreiras para que o povo pudesse ouvir e compreender o evangelho. Quando chegou à China ele viu que os missionários viviam nas cidades portuárias, mais confortáveis, passando a maior parte do tempo na sua comunidade estrangeira fechada. Taylor viu o vasto interior da China sem testemunho. Ele também viu que a sua roupa e a sua maneira de ser inglês ofendia e afastava os chineses. Isto levou Taylor a decidir algo que  seria motivo de rejeição dos seus compatriotas ingleses, mas abriria as portas dos corações chineses. Ele trocou de roupa, usando o estilo chinês, e até deixou seu cabelo crescer para poder fazer uma trança como os homens chineses. Ele foi viver no meio deles, em casas simples, comendo a sua comida como os chineses comiam. Usava o transporte de barcos e rinquishás e enfrentou doença, perigo e ameaça, assim como os próprios chineses enfrentavam diariamente. Hudson Taylor, e os missionários que o seguiam mais tarde, espalharam o evangelho no interior da China e outros países, sempre ajudando na formação de líderes nacionais e evitando criar dependência. A Missão para o Interior da China ("CIM", agora OMF—Overseas Missionary Fellowship) desenvolveu a prática de não pagar salários ou construções. Eles queriam que os novos convertidos logo assumissem responsabilidade na direção e sustento das suas igrejas e das suas próprias missões.

            J.O. Frazer foi missionário com a CIM entre os Lisu das montanhas escarpadas no sul da China. Esta tribo, por viver em um lugar alto, não conseguia muitas plantações; viviam de ovos, raízes e outras coisas de fraco teor nutritivo. Frazer subia a pé, comia com eles, dormia nas suas cabanas ao lado deles e do fogo fumacento. Aprendeu que não podia oferecer informações sem primeiro ser perguntado, e respeitou este costume. Esperava a pergunta, "Porque o senhor está aqui?" para poder explicar a salvação em Jesus e ensinar a Bíblia. Após muitas lutas, oração e perseverança, uma família, e depois um vilarejo após outro começaram queimar as suas casas de ídolos, seus apetrechos idólatras e aceitar Cristo como Salvador e único Senhor. Logo foi formada a igreja, com líderes que Deus levantava entre o próprio povo. Eram estes líderes, não o próprio Frazer, que tinham que decidir as questões ligadas ao ensinamento bíblico e à vida dos crentes. Ele sabia ensiná-los a Bíblia, eles sabiam como aplicá-la na sua cultura.

            Logo no início da igreja, foi nomeado um missionário para acompanhar Frazer, alguém sustentado pela própria igreja nova. Até o dia de hoje os Lisu têm igrejas fortes, batizam centenas de pessoas anualmente, e apesar da opressão política da China e de Myanmar (a tribo se estende até lá) continuam sendo fiéis ao Senhor.

            Um dos principais contribuintes para a ciência da contextualização foi o Dr. John Nevius que atuou como missionário na China no final do século passado. Ele ficou insatisfeito com a maneira tradicional da maioria dos estrangeiros de fazer missões. Viu como Hudson Taylor e outros missionários que questionaram e mudaram o sistema, que os missionários estavam acostumados com a vida de conforto e estavam cômodos nas vilas e colônias feitas por eles. Eles não saiam das suas comunidades de estrangeiros para estarem de uma forma profunda com o povo. Não estavam se identificando com o povo. Estavam alheios à língua, aos costumes, à vida diária, à comida, às crenças e ao étos do povo. Além disso, formaram igrejas nos moldes das suas denominações e tradições de origem, sem passar  responsabilidades para os nacionais. Com atitudes paternalistas, decidiam tudo e com o dinheiro da missão, pagavam as despesas, inclusive salários dos obreiros nacionais contratados por eles.

            Nevius viu os problemas com este sistema. Sentia a dependência criada e o resultante fracasso no progresso do evangelho no meio dos chineses. Ele se frustrava com o etnocentrismo dos colegas que olhavam para os chineses como inferiores e incapazes financeira, intelectual, e espiritualmente de desenvolver o trabalho de Deus no local.

            Nevius desafiou o sistema com um documento, tentando mostrar aos missionários um trabalho mais perto da Bíblia. Os pontos apresentados foram:

1.  Cada crente é um mestre e um aprendiz - os missionários também!

2.  Cada crente funciona de acordo com os seus dons e deve ser ajudado a desenvolver o seu dom. Não há um dom maior do que outro.

3.  O missionário nunca deve ser um pastor, mas com itinerância ajudar outros a serem pastores em vários lugares.

4.  Cada crente deve permanecer onde está - no seu trabalho, etc. (sem "aldeias cristãs") e testemunhar.  Cada crente é um missionário.

5.  Métodos e estruturas eclesiásticas devem ser desenvolvidos apenas à medida que as pessoas do lugar possam tomar responsabilidade do mesmo.  Eles tinham que se governar.

6.  A própria igreja deve chamar aqueles dos seus qualificados para a liderança, quem a igreja podia sustentar.

7.  As igrejas tinham que ter arquitetura coreana - feita pelos coreanos dos seus próprios recursos.  Cada igreja era independente da missão.

8.  Todos tinham que fazer muitos estudos bíblicos, inclusive através de cursos intensivos, estudos pessoais e em conjunto com os membros da igreja (inclusive o missionário).

            Os colegas de Nevius na China não aceitaram as suas idéias. Mais tarde outros missionários, os primeiros a chegar à Coréia, o convidaram para passar as férias com eles, aproveitando o tempo para explicar as suas idéias. Ele foi e com isso começou a missão cristã na Coréia, usando o "Método Nevius", como ficou conhecido mais tarde. O sucesso da missão presbiteriana e outras na Coréia em parte é atribuído à passagem de Nevius por duas semanas nas suas férias!

            Roland Allen foi outro bem conhecido pensador sobre contextualização. Missionário experiente, e diretor da Missão Anglicana na Inglaterra no início deste século, Allen falava e escrevia sobre o mesmo problema que preocupava Nevius, Hudson Taylor e outros. Em alta voz, que em grande parte caia sobre ouvidos surdos, Allen desafiou as missões a voltarem para o exemplo e ensino da Bíblia. Ele pedia para confiar no Espírito Santo, que dava também capacidade aos nacionais. Pedia para desistir de pagar as contas, deixando que os novos convertidos assumissem as responsabilidades das suas construções e salários dos seus obreiros. Lastimou que no mundo inteiro ainda houvesse igrejas que pareciam umas com as outras, todas iguais às igrejas européias ou americanas. Em vez de ajudar, os missionários conseguiram às vezes inferiorizar os nacionais ao mostrar a extrema pobreza pelo contraste do estilo de vida dos missionários. Os missionários deram o peixe, "não ensinava a pescar".

            Na área de contextualização que envolve a tradução da Bíblia, Eugene Nida é o mais conhecido pela sua idéia de "Equivalência Dinâmica", a necessidade de traduzir o sentido  da idéia original sendo comunicado. É o oposto da tradução formal, ou tradução de simples formas, sem levar em consideração a interpretação dos ouvintes. Uma tradução formal estreita nem usaria a língua do povo receptor, como antigamente na Igreja Católica Romana quando a missa e a leitura da Bíblia eram em latim, tanto em Roma como no Brasil ou na Àfrica. É o extremo, porém fazemos a mesma coisa às vezes quando tentamos traduzir palavra por palavra, sem levar em consideração os significados diferentes destas palavras nos contextos diferentes. Isto acontece mesmo dentro de uma só cultura, quando a mesma palavra tem significados diferentes, e se mudar o significado apropriado, distorce o texto. "Jóia", comentando de uma refeição excelente, ou uma coisa que gostamos, e "jóia" de um brilhante no dedo da noiva, são duas coisas diferentes.

            Nida teve o cuidado de explicar, no seu livro, Meaning Across Cultures  (Eugene A. Nida e William D. Rayburn. Orbis Books, 1981) os limites de "Equivalência Dinâmica", pois alguns tinham usado esta idéia para propor um relativismo, não só lingüístico, mas em todos os aspectos da contextualização. Nida assegura que existem conceitos que não podem ser modificados, principalmente fatos históricos, especialmente fatos ligados a símbolos religiosos. Jesus de verdade morreu numa cruz e não podemos ensinar que morreu afogado só porque em nossa cultura não existe punição de morte em uma cruz. Os israelitas realmente mataram cordeiros na Páscoa; não podemos dizer que mataram porcos, especialmente porque fica claro na Bíblia que Deus proibia o uso de porcos na dieta israelita. Estas tentativas exageradas de explicar em termos culturais as verdades bíblicas podem ser sinais de paternalismo e etnocentrismo. O missionário que faz isso tem a tendência de pensar que ele mesmo possa entender estes fatos, mas o povo "simples" com quem ele trabalha, não tem a mesma capacidade. Nida recusa-se a aceitar esta aplicação da sua teoria de "Equivalência". Em casos históricos fora da experiência local, o missionário tem que ensinar o que é o objeto ou acontecimento, para levar o povo à compreensão. Não é lícito modificar à vontade os fatos.

            Charles Kraft é um que utilizou a teoria de Nida e aplicou-a para uma relativização em quase todos os aspectos da cultura.  Ele criou uma teoria chamada "Etnoteologia", onde a Bíblia deve ser explicada conforme a cultura. A contribuição positiva de Kraft é que nos ajudou a juntar três matérias: antropologia, teologia e missiologia. (É essencial que não apliquemos uma, sem que as outras duas sejam consideradas.) Kraft, porém, colocou a cultura e a antropologia como o intérprete das outras duas. Para ele a Bíblia não é normativa; é um "livro de casos" onde podemos ver exemplos de como Deus agia no passado entre duas culturas. Não é aplicável hoje, pois o missionário tem que descobrir como Deus vai agir hoje na cultura onde está trabalhando. É como se fosse começar do zero na atuação missionária, sem ter verdades concretas e definidas a ensinar.

            Muitos missiólogos apreciaram Kraft, mas reagiram contra as suas colocações mais radicais. Se tirar a Bíblia como normativa na proclamação cristã e na formação de discípulos de Jesus, "ensinando-os a guardar tudo" que o próprio Jesus ensinou (Mt 28:19-20), de onde o missionário vai tirar estes ensinamentos? Sem a Bíblia, missões se torna muito mística, intuitiva e individual. Cada um poderia inventar teologias e práticas à vontade. Anularia textos como 2 Timóteo 3:16: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o home de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." Não haveria unidade na igreja universal, pois as igrejas não teriam conhecimento para poder compartilhar as doutrinas e experiências baseadas na Bíblia.

            Harvie Conn, ex-missionário na Coréia e atual professor no Westminster Seminary em Philadelphia, explica que "contextualização" envolve "descontextualização"— a mudança de traços culturais contrários à vontade de Deus. Enfatiza que o "diálogo" entre a cultura e o cristianismo é realmente mais um "monólogo" onde temos que ouvir de Deus em primeiro lugar, conhecê-lO e buscar entendimento da Sua vontade para obedecê-la. A compreensão da cultura é essencial para saber pôr em prática a vontade de Deus, mas não determina esta vontade. No seu livro, uma exposição escrita a partir de um debate com Kraft, Conn usa o título "Palavra Eterna e Mundo em Mudança (Eternal Word and Changing Worlds).  A Palavra não muda, o mundo está em constante mudança dinâmica. (Alguém disse, "Quem casa com a cultura, fica logo viúva".)

            Paul Hiebert, nos seus escritos sobre antropologia e contextualização, usa a terminologia, "contextualização criteriosa". Em outras palavras, há critérios  para a vida cristã e para a igreja de Deus. Estes critérios são explicados na Bíblia. Ninguém tem uma perfeita compreensão dos ensinamentos bíblicos, mas quando juntamos pedaços da igreja ao redor do mundo, com as compreensões de diferentes pontos de vista culturais, podemos chegar mais perto da verdade da Palavra. Inclusive à medida que vamos chegando para o centro da verdade, vamos chegando mais perto um do outro.

            David Hesselgrave é um dos missiólogos que tem escrito sobre a contextualização, tentando colocar em perspectiva a contextualização sem limites de Kraft e o significado da expressão "Palavra de Deus" dos líderes da comissão da FET. Ele escreve:

Fica evidente nessas definições que os evangélicos conservadores têm lutado para chegar a um consenso. Certas palavras-chave nessas definições —pertinente, significativo, implicações e conscientização— revelam diferenças importantes. No entanto, outras palavras e expressões fundamentais — teor imutável, exegese do texto e afirmações hermenêuticas— servem para sublinhar o fato de que realmente gozam [missiólogos evangélicos, como Bruce Nicholls, George Peters, Byang Kato e Harvie Conn[3]] de um consenso no que diz respeito a questões ligadas ao ponto de partida da evangelização e da teologização, ao conteúdo do evangelho e à autoridade suprema em todas as questões de fé e prática. Tudo isso se encontra na Palavra de Deus escrita." (A Comunicação Transcultural do Evangelho: Comunicação Missões e Cultura , v. 1. EVN, p. 116).

            Muitos outros contribuíram para que pudéssemos ter em nossos dias um acervo rico de material sobre a contextualização missionária. Temos biografias e livros textos que tratam exatamente deste assunto. Exemplos tremendos de contextualização estão disponíveis a nós, tirando qualquer desculpa que nós teríamos em não fazer uma contextualização missionária bíblica. O problema é que freqüentemente ignoramos esta riqueza de conhecimento, seguimos as nossas trilhas da melhor maneira aos nossos olhos, e repetimos exatamente os mesmos erros que os homens do passado e presente têm tentado nos ajudar evitar!  Caímos pessoalmente no pecado do paternalismo e etnocentrismo, e freqüentemente não sabemos definir o que é pecado na cultura onde estamos vivendo e trabalhando. (Ou denominamos algo como pecado que na verdade não é, ou deixamos passar algo que diante de Deus é pecado.)

 
 

O Que É Pecado?

            Uma questão central da contextualização bíblica é o pecado. O alvo do missionário é ensinar a guardar  o que Jesus ordenou (Mt 28:19). Isto é, formar discípulos que são seguidores de Jesus em tudo que é a Sua vontade. É formar igrejas que pela santidade de vida são espelhos de Deus aqui na terra. Por isso Deus foi tão rígido com Israel quando pecavam. Pela mesma razão Ele zela pelo testemunho das igrejas— para que o mundo conheça o Senhor e O glorifique. O pecado impede cumprir a finalidade de Deus para Seu povo, e prejudica a vida do crente.

            O que, então, é pecado? Arrependemo-nos de quê? Antes de falar de arrependimento o missionário tem que deixar claro de que se trata. Para fazer uma contextualização, é necessário entender o que é de verdade pecado, aquilo que será transformado e perdoado.

            Alguns pecados são bem descritos na Bíblia, Antigo e Novo Testamentos. Não são idéias abstratas ou filosóficas, mas proibições claramente definidas. Chamamos estes ensinamentos sobre o proibido em qualquer cultura e em qualquer época de verdades "supraculturais"— são ensinamentos que servem para todos os membros da igreja de Jesus Cristo na face da terra. Estes são os limites que os missiólogos Hesselgrave, Conn, Nida, Nicholls e Hiebert defendem. Exemplos incluem a proibição de cohabitar com alguém que não é cônjuge; matar o próximo, inclusive sacrificar gêmeos ou fetos; proibido ignorar as necessidades do "vizinho" (no sentido do Bom Samaritano, onde todos são vizinhos), ou de mentir, cobiçar, invejar, etc. Ao longo da Bíblia há dois pecados básicos severamente condenados: a idolatria e a opressão social. O crente tem que amar a Deus em primeiro lugar, e amar e respeitar seu próximo. Estes pecados são contra ordens claras e definidas. São universais.

            Há outro gênero de definição bíblica do pecado que é expresso culturalmente. Por exemplo: a vaidade é proibida como atitude não cristã. Mas o que é vaidade na sua cultura e nas outras? Em algumas culturas é expressa com o uso de maquiagem para homens e para mulheres. Em outras culturas maquiagem não significa vaidade, mas sim faz parte da vestimenta normal. Eu mesma fui acusada de ser vaidosa uma vez por umas freiras luteranas, da Alemanha. Tinha deixado meu cabelo crescer bastante para poder identificar-me melhor com o grupo com que eu estava trabalhando e, quando viajei com as irmãs, senti que não estavam aprovando algo. Depois de algum tempo, me chamaram e perguntaram por que eu era tão vaidosa de ter este cabelo loiro e comprido. Foi chocante! Para o povo com quem trabalhava, era "espiritual" ter cabelo cumprido; para as irmãs, vaidade. Além disso, quando fui para a minha igreja nos Estados Unidos levei outro choque quando as pessoas desconfiaram que eu tivesse entrado para o movimento hippie daquela época, pois as moças hippies usavam  cabelo comprido!

            Outro exemplo pode ser ligado com a vestimenta. Vaidade se expressa em roupas também, além de outros valores como modéstia, pudor, licenciosidade e outros. Para alguns, o homem tem que usar calça comprida, terno e gravata. Para os pastores da Assembléia de Deus em algumas ilhas do Pacífico calça é proibida, pois os homens daquela cultura usam saias estreitas. Há enorme variedade de formas de vestir com seus respectivos significados ao redor do mundo. Para muitos muçulmanos a mulher não pode descobrir o corpo ou o rosto; para muitas tribos indígenas, apenas uma fita ao redor da cintura demonstra pudor. Para a tribo Dani, os missionários por eles enviados tinham certeza que tinham que ir bem vestidos com os grandes tubos cobrindo a genitália, e levaram tubos para os povos que foram evangelizar, pensando que eles também tinham que se vestir decentemente como cristãos.

            Estes são exemplos entre muitos de como é importante descobrir o significado destes traços, e não somente entrar com nossas idéias daquilo que seria "vaidade" ou pecado. No entanto, é imprescindível que o missionário conheça profundamente a Palavra de Deus para saber o que Deus quer do Seu povo. Não basta depender das nossas explicações tradicionais, ou das nossas expressões destas coisas.

            Antes da palavra "contextualização" ser usada, a identificação cultural concentrava-se mais nestes traços culturais externos como roupa, casa e comida. Mas, junto com o conceito de "contextualização" veio uma preocupação com outros pecados mais profundos: opressão social, sistemas políticos severos, distância social entre os que têm e os que não têm, castas, relações internacionais. Seguindo o exemplo de Carey, o missionário deve estar atento em ver o que pode fazer para ajudar os cristãos a serem fiéis nas suas sociedades, sem seguir os sistemas contaminados pelo pecado. Na medida do possível, devem ajudar os outros em situações difíceis. O evangelho deve permear toda a sociedade e fazer diferença através da vida e atuação dos membros das igrejas.

            Temos que, portanto, conhecer profundamente a cultura receptora para saber por que fazem as coisas, o significado para eles. O Evangelho que levamos consiste em uma mensagem de perdão. Envolve arrependimento do pecado. O missionário se vai falar da graça e misericórdia de Deus no sacrifício de Cristo deve começar a partir da necessidade do povo. Os missionários da missão Novas Tribos começam em Gênesis, mostrando quem é o homem e quem é Deus, levando a história até a morte e ressurreição de Jesus. Fica claro no seu filme "EeTaow" que o povo sentiu profunda necessidade do perdão antes de explodir em alegria ao receber o perdão de Deus em Jesus.

            Quem sabe dos pecados supra culturais é o missionário, no início. Quem sabe das expressões culturais de muitos destes pecados é o próprio povo. Para fazer uma contextualização verdadeira, o missionário tem que fazer discípulos de Jesus, discípulos que vão conhecer a Bíblia e poder detectar aquilo que é ou não do agrado de Deus. A verdadeira contextualização faz discípulos de Jesus Cristo— discípulos que sabem levar para frente a evangelização, a transformação, a compaixão e a missão da igreja em alcançar todos os povos com o evangelho.

            Com tudo isso, é fácil entender a necessidade de enviar pessoas para o campo que sejam conhecedoras da vida e fé cristã e conhecedoras de como viver, compreender e identificar-se com um povo estranho a ele. Têm que ser discipuladores que possam ensinar e ajudar os outros a crescerem na fé e prática da Bíblia. Há muitas maneiras para fazer isso e diferentes níveis de contextualização para o missionário.

 
 

Contextualização em Três Níveis

            Talvez possamos resumir em três os níveis de contextualização: (1) na vida pessoal do missionário; (2) na comunicação ao povo receptor; e (3) na vida dos discípulos e na igreja formada no meio do povo.

1. A vida pessoal está ligada a como a pessoa vai viver no meio da cultura receptora. Como é seu estilo de vida, sua roupa, sua casa, seu transporte? Quais são os relacionamentos pessoais, na família, com colegas e nacionais? Ele é autêntico ou paternalista e dono do conhecer? Tudo isso pode criar ou quebrar barreiras entre o missionário e o povo.

            Ray Buker (Corrida Contra o Tempo, Edições Vida Nova, 1994) conta que, entre outras coisas, a sua casa grande, com portas com maçanetas importadas criava barreiras com os birmaneses. Eles não sabiam abrir a porta da sua casa. Quando Dr. Buker percebeu a dificuldade, trocou as maçanetas pela do tipo local. Mais tarde trocou a casa grande pelas choupanas do povo onde passava semanas com seu colega birmanês, evangelizando e ensinando.

            Um amigo conta que chegou a um campo missionário onde a missão já tinha atuado por muitos anos. Justamente na época da sua chegada os missionários e os nacionais estavam se reunindo para tentar resolver problemas de relacionamento entre eles. Os nacionais reclamavam: "Vocês não gostam de nós. Nunca passam em nossas casas para compartilhar uma refeição!" Os missionários, chocados, se defendiam: "Mas são vocês que não gostam de nós. Nunca nos convidam para uma refeição e sempre convidamos vocês, mas vocês não aceitam!" Os nacionais explicaram: "Em nossa cultura o amigo não é convidado e vem sem convite. Vocês além de não irem, nos convidam; não são amigos!"

            Lógico que não podemos mudar totalmente, ou chegar a uma compreensão plena de uma nova cultura. Primeiro, é impossível. Algumas pessoas têm mais facilidade nisso do que outras, mas cem por cento de identificação é humanamente impossível.   Segundo, não é desejável adotar por completo os costumes de um povo. Todos os povos têm pontos positivos (elogiados pela Bíblia) da sua cultura, como solidaridade, fidelidade à família ou à aldeia, criação de filhos, etc. Também há pontos neutros, que existem pelo desenvolvimento da cultura e não têm aval, nem proibição bíblica, mas também existem também sempre pontos negativos, onde Satanás e a queda do homem são manifestos. Efésios 2:1-3 explicam bem como somos sem Cristo:

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhas da ira, como também os demais.

 Com manifestações deste "mundo tenebroso" não podemos nos identificar e temos que ensinar como Carey e tantos milhares de outros missionários, começando com Jesus, que a igreja é diferente da cultura. É luz e sal para o mundo.

            Ouvi uma vez que um casal de missionários salvou um gêmeo recém nascido de ser levado à selva para morrer, conforme o costume da tribo. O casal levou o nenê para casa e após alguns meses comunicaram com a sua igreja enviadora do acontecido. A igreja ficou indignada e enviou uma carta exigindo que o casal devolvesse o nenê para ser morto, pois "tinham que respeitar a cultura". Além de estar pedindo um ato que para o casal certamente seria desesperador, porque já estavam amando o nenê como o seu próprio filho, à identificação cultural não deve incluir identificação com, ou reforço dos mesmos pecados. Carey não aceitou como natural o sati, mas lutou durante anos até a sua abolição e algumas vezes pessoalmente tentou salvar a vida das viúvas.

            Respondendo esta idéia de contextualização sem limites, o Patrick Sookhdeo, diretor do Instituto para o Estudo de Islã e Cristianismo em Londres escreve que os próprios muçulmanos entendem certas atitudes de missionários como fraude e decepção.

As práticas que combatem incluem coisas como encorajar convertidos ao Cristianismo a continuar indo para as orações na mesquita e de continuar a se chamar de muçulmanos. . . A Bíblia é apresentada em formato muçulmano, imitando o Al Corão, para os leitores pensar que estão lendo o próprio Al Corão. Seguem feriados islâmicos assim como o jeito islâmico de orar e jejuar (Patrick Sookdeo, "Issues in Contextualização, World Evangelization  Nº 80, Sep/out de 1997, p. 7).

            Apesar de impossível, e às vezes indesejável, o missionário deve tentar compartilhar a vida com o povo nos pontos aceitáveis. Eles devem sentir o amor e o respeito do missionário e não que ele se considere melhor.

2. Na comunicação é muito importante aprender a falar a língua do povo. Sem poder comunicar-se lingüisticamente o missionário ficará sempre com as mãos amarradas, limitado ao sorriso (nem sempre entendido do mesmo jeito) e aos gestos. Como vai ensinar se não sabe falar. Portanto, a prioridade para o missionário, ao chegar ao campo, é aprender a língua.

            Na comunicação verbal deve-se conhecer a cultura o suficiente para poder usar termos conhecidos, figuras que emocionam e tocam profundamente o coração. Para tanto, necessita de um conhecimento da história, literatura, música e poesia do povo, junto com suas formas literárias.

            Um exemplo marcante disso é o Apóstolo Paulo quando chegou a Atenas e foi convidado ao Areópago. Ele já podia falar da "religiosidade" do povo e até citou dois poetas conhecidos. Ele não começou com a Bíblia, mas com a natureza, com o Criador e com Aquele que enviou para julgar. Falou do arrependimento das "obras humanas", onde Deus não habita e onde é pecado louvar falsos ídolos. Tenho certeza de que ele conseguiu ganhar a atenção daqueles filósofos tão arrogantes da sua sabedoria! Sem este tipo de comunicação eficaz, não há contextualização.

            O missionário que não sabe se comunicar já mostra sua falta de identificação com o povo. Há algo especial no fato do missionário se esforçar em não ferir os ouvidos dos ouvintes ou bagunçar os fatos que ele foi enviado a transmitir. Antes de fazer qualquer outra coisa, deve separar o tempo suficiente para aprender a língua verbal e não verbal.

3. Como são os resultados do trabalho do missionário: os discípulos formados e a igreja estabelecida? Como são as estruturas construídas?

            É interessante verificar que freqüentemente as estruturas físicas parecem com os templos do país do missionário? Tem cimento, púlpitos, formato retangular, mesmo erguidos no meio de um povo que vive em casas circulares, feitas de folhas e onde todo mundo senta no chão em um círculo.

            Tive a experiência de participar de um instituto bíblico por alguns anos onde os próprios alunos tinham erguido os dormitórios, salas de aula e refeitório. Esta escola super simples tinha 100 alunos, enquanto que muitos outros seminários na mesma região, apesar das suntuosas estruturas físicas que possuíam, geralmente não tinham mais que 15 alunos. Por quê? Talvez uma razão fosse que os alunos da primeira escola sentiam-se mais à vontade; a escola era deles.

            Estruturas eclesiásticas também são importantes como forma de medir se uma contextualização bíblica aconteceu.  Quem dirige a igreja? Quem participa? Quem tem ministério? O missionário dirige e faz tudo e é o pastor? Ou o missionário está ajudando os novos convertidos a descobrirem os seus dons, está andando junto, ensinando com a vida o ministério e as palavras? Os novos estão crescendo? Servindo o Senhor?

            A igreja formada é uma comunidade de pessoas unidas em humildade, prontas a se sacrificarem em amor para o outro. Não são apenas domingueiros, mas uma koinonia, onde há unidade e solidariedade. O teste do nosso trabalho são as pessoas que deixamos para levar em frente o trabalho de Deus em missões. Paulo falou claramente que eles eram a coroa dele, a prova do seu sucesso. Não eram subalternos dele, mas discípulos fiéis ao Senhor.

            Contextualização bíblica significa que o missionário contribuiu para as verdades de Deus fossem arraigadas em uma nova cultura, que estas verdades fossem compreendidas e comunicadas para outros sem distorções e que as verdades são transformadoras, da comunidade cristã e da comunidade secular. A nova igreja é uma lâmpada que vai ser diferente na alegria, na comunhão, nos relacionamentos sociais, em ajudar os necessitados, em ser justos com todos. Vai ser um espelho em que outros vão enxergar a sua necessidade e ver a resposta em Jesus Cristo.

            Que tipo de missões transculturais estamos fazendo a partir do Brasil? Podemos detectar reflexão missiológica na vida dos próprios missionários, ou na filosofia das suas agências enviadoras, ou simplesmente repetimos os modelos etnocêntricos e pragmáticos que vêm sendo desenvolvidos freqüentemente, apesar dos que apelam para modelos mais bíblicos?

            Com toda literatura que dispomos, com escolas de missiologia, com igrejas investigando o envio de seus jovens para missões, não temos muitas desculpas em repetir os erros do passado. Temos toda possibilidade de concertar os erros e com humildade chegar aos povos com uma mensagem de amor, graça, perdão e de transformação compreensível e visível.


 


 

[1]Citado em Hesselgrave e Rommen, 1989:110-111).

[2]Darrow L. Miller. "Discipling Nations". Evangelical Missions Quarterly, v. 33, Nº 1 (January, 1998):46-47.

[3]Veja a bibliografia.


 

O Papel da Igreja em Missões

lModificação do artigo publicado no Jornal Batista de São Paulo, 26/02/90

  Barbara Helen Burns

(Disponível em http://www.preparomissionario.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=48:o-papel-da-igreja-em-misso&catid=34:artigos&Itemid=63 , em 25 de setembro de 2010)

             "É uma junta ou agência que tem o papel de enviar missionários! A igreja não sabe nada sobre isto."  "Não, é apenas a igreja local, sem nenhuma interferência de uma agência!" Esta discussão está acontecendo freqüentemente  nestes dias de mega-igrejas, individualismo e entusiasmo. Historicamente agências têm assumido todo o trabalho de enviar missionários, fazendo com que as igrejas se desligassem de qualquer responsabilidade, perdendo a oportunidade de obediência e benção.  Do outro lado, recentemente há igrejas dizendo que sozinhas vão mandar missionários, sem nenhum auxílio de uma junta ou agência especializada.

Como podemos entender a vontade de Deus no meio desta confusão? Há bons modelos de igrejas que seguem de forma equilibrada o envio de missionários, sem delegar missões às Juntas de Missões Mundiais, Nacionais, ou Estaduais, dando apenas uma oferta por ano.  Há modelos de parceria, onde a igreja assume sua responsabilidade com a ajuda das pessoas com experiência na área. Há agências que sabem que o missionário tem que ter uma base sólida na igreja — igrejas que investiram nos seus candidatos e os prepararam e escolheram para serem fiéis servos do Senhor dentro da igreja e fora, até no meio de outra cultura.

Tive o privilégio de ser criada numa igreja onde missões era central em todos os seus propósitos.  Os membros nunca se sentiam mais felizes do que quando enviando um dos seus membros para um campo distante, ou contribuindo para que o nome do Senhor Jesus fosse proclamado perto ou ao redor do mundo.  Era uma igreja que conhecia profundamente a base bíblica e a estratégia e importância de missões, mas trabalhava em parceria com agências missionárias. A agência principal que a igreja utilizava também compreendia o papel fundamental da igreja, fazendo com que os únicos candidatos aceitos eram pessoas aprovadas, enviadas e sustentadas por suas igrejas locais.

            O primeiro modelo de uma igreja enviadora se acha em Atos 13.1-4.  O Espírito Santo enviou, por intermédio da igreja local, os dois homens mais preparados e queridos no seu meio — os seus líderes.   Jesus mesmo disse que a razão da existência dos Seus discípulos (os membros e líderes das igrejas) era pregar o Evangelho a toda criatura — de Jerusalém até aos confins da terra!  Jesus tinha preparado Seus discípulos por três anos com esta finalidade, e no fim deu a ordem prioritária para eles, e para todos que vinham depois deles. 

Missões é a responsabilidade de todos os discípulos de Jesus Cristo, e a razão central da existência das igrejas. Isto é claro em todo ensinamento da Bíblia, desde Gênesis até Apocalipse. O povo de Deus é canal do conhecimento e acesso a Deus. Além de todo o peso do ensinamento bíblico sobre a missão do Seu povo, Deus deixa claríssimo em Êxodo 19:5-6 que a escolha do povo de Israel tinha motivo sacerdotal entre Ele e todos que Ele tinha criado. Toda nação de Israel tinha que compreender que a lei que Moisés ia logo receber tinha razão de ser, não era simples legalismo. Eles tinham que ser santos para poder manifestar ao mundo a santidade do Deus criador e Senhor das suas vidas. O mesmo texto é repetido em 1 Pedro 2:9, desta vez para as igrejas — o povo de Deus no Novo Testamento. Deixa claro o papel apostólico contínuo para poder alcançar este mundo que Deus tanto ama.

            As juntas e agências de missões foram estabelecidas para ajudar as igrejas cumprir  esta vontade de Deus em fazer missões.  Cada igreja individual não tem possibilidade de preparar, coordenar, administrar e acompanhar missionários milhares de kilômetros de distância. Pessoas nas igrejas não têm conhecimento cultural, burocrática ou política para poder auxiliar os seus missionários de forma adequada.

No entanto há coisas que as juntas não podem fazer que são a responsabilidade das igrejas.  A seguinte lista fornece uns exemplos das responsabilidades  que cabem as igrejas  na execução prática de missões.

1.  A responsabilidade do preparo.   O contato a longo prazo, o ensino da Palavra, a vida em comunidade, e o crescimento mútuo de Cristãos que se amam e ajudam uns aos outros viver dignamente do Senhor é a melhor escola missionária.  O missionário vai levar junto com ele para os campos  as atitudes e o modelo que fez parte da sua formação cristã, repetindo e imitando aquilo que experimentou e viveu (muito mais do que ele aprendeu numa escola formal, apesar que precisa da escola formal também, para completar o conhecimento necessário teológico e missiológico).  Como é importante este modelo ser de uma igreja que serve fielmente o Senhor no seu próprio trabalho evangelístico e discipulado na vida cristã!  Como é importante que o missionário tenha experiência profunda numa igreja que segue diretrizes bíblicas no seu modo de ser e no seu modo de servir e louvar o Senhor!

            A prática do ministério faz parte do preparo, como aconteceu com Saulo e Barnabé antes da sua primeira viagem missionário. Uma experiência prática de ministério profundo e abrangente, como eles tiveram em Antioquia só pode se obter numa igreja local.  Deverá existir oportunidades de exercer um ministério dentro da comunidade de Deus.  Os colegas e líderes de uma igreja conhece os dons, os problemas, e as áreas de necessidade dos seus membros, dando base para aconselhamento, direcionamento, e crescimento quanto vocação ministerial.

2.  A responsabilidade da escolha.  Assim são as igrejas que podem reconhecer aqueles que são verdadeiramente aprovados nas suas práticas e sua vida cristã.  Conhecem profundamente o candidato, e devem com toda honestidade recomendar ou não as pessoas para missões.  Faz parte desta responsabilidade o conhecimento das qualificações necessárias para um obreiro em missões. É preciso enviar as pessoas certas, que darão fruto em situações às vezes difíceis de comunicar e viver. Às vezes é necessário  dizer para algumas pessoas que devem esperar mais, devem se preparar melhor, ou devem ajustar  as suas vidas em áreas de necessidade. Faz parte também discernir que algumas pessoas não são chamadas ou qualificadas para missões transculturais.

3.  A responsabilidade do envio.  Em Atos 13 o Espírito Santo não falou apenas com Saulo e Barnabé; falou com a igreja.  Foram membros da igreja que colocaram suas mãos sobre os dois, assim declarando sua solidariedade e identificação com eles.  Eram embaixadores daquela igreja, conforme a direção do Espírito Santo. 

As igrejas hoje devem estar alertas para saber a vontade de Deus sobre seus membros.  Que privilégio Deus dá a igreja em usá-la para enviar seus melhores membros a serem pioneiros em campos sem a Palavra e o conhecimento de Deus.

No envio a igreja precisa de ajuda burocrática e estratégica. Nisto a agência é uma grande benção. A igreja deve cuidadosamente procurar e indicar para parceria agências dignas, com boa reputação e experiência.

4.  A responsabilidade do apoio.  Depois de longos anos de serviço frutífero, Paulo ainda reconhece a absoluta necessidade de apoio em oração.  Em Efésios 6:18-20 ele diz para a igreja:

 
 

               Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos, e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palvra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar.

Paulo sabia que sem a oração, nem ele teria sucesso em missões!

            A responsabilidade não termina com oração; apoio financeiro também é um importante ingrediente para missões.  Paulo menciona este fato várias vezes, especialmente em Filipenses 4:10-20,  onde ele agradece a oferta sacrificial dos irmãos pobres da Macedônia.  A oferta foi uma benção para ele, porque supriu necessidades e demonstrou o amor e a solidariedade da igreja com ele.  Acima de tudo foi uma benção para a própria igreja, porque a oferta foi como uma dádiva a Deus, colocada na conta celestial da igreja.

            Assim temos o desafio e as responsabilidades missionárias das igrejas.  Mas como fazer?  Quais alguns passos práticos?

1.  Mensagens e ensino missionário.  É difícil estudar a Bíblia sem estudar missões.  Se enfatizamos missões à medida que a Bíblia o faz, a igreja estará crescendo no seu conhecimento de como e porque fazer missões.

2.  Testemunhos dos missionários.  Devemos convidar missionários a pregarem e ensinarem nas igrejas, encorajando os membros a convidá-los a se hospedarem nas suas casas.  Devemos ser membros de igrejas que se alegram com a presença e o trabalho dos missionários.

3.  Oração semanal em favor de missões e os missionários.  Cada culto deve incluir um momento da igreja levar as necessidades dos missionários a Deus em oração.  Podem ser lidas cartas, artigos em jornais, informações missionárias, que ajudarão os membros se envolverem pessoalmente na vida dos missionários e nas necessidades ao redor do mundo.

4.  Conferências missionárias.  Missões podem ser enfatizadas de uma forma especial uma ou duas vezes por ano.  Pessoas de todos os departamentos da igreja podem participar e tomar responsabilidade de dirigir e compartilhar durante as conferências. Os membros das igrejas, inclusive as crianças, devem chegar à conclusão que Eles podem ajudar na missão de Deus, não é de "especialistas" ou grandes oradores.

5.  Conselhos missionários.  Se a igreja for grande, um grupo pode se formar para informar e ajudar a igreja no conhecimento e prática de missões.  O conselho não deve se tornar mais uma "junta,", mas sim, levar a igreja toda tomar decisões e se envolver no preparo, na escolha, e no apoio de missionários.

6.  Ser modelo de missões.  Uma igreja ativa na evangelização e discipulado não apenas oferece oportunidades de prática de ministério, como se torna o modelo ideal que o missionário vai repetir em outros lugares.  Cada igreja deve procurar expandir ao seu redor, formando pontos de pregação e congregações. Assim a igreja providencia oportunidades de treinamento e envolvimento pessoal no ministério da igreja enquanto está cumprindo fielmente o propósito pelo qual foi criada.


 

Preparando Missionários para Campos de Risco

Preparando Missionários para Campos de Risco

Assembléia da APMB, Campinas, 07 de abril de 2000

Barbara Helen Burns

(disponível em http://www.preparomissionario.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=55:preparando-missionarios-para-campos-de-risco&catid=34:artigos&Itemid=63 , em 25 de setembro de 2010)
 
        De acordo com David Barrett, especialista em estatísticas do Cristianismo mundial, nos últimos 30 anos o Cristianismo cresceu com velocidade tal que o mundo inteiro está rapidamente chegando ao ponto de ser evangelizado. O número de testemunhos cresceu de 300 mil a 760mil entre 1970e 1997, horas evangelismo subiu de 99 bi a 432 bi, o número dos não evangelizados caiu de 37,6% em 1970 para menos que 19% em 1997, fazendo com que 80% do mundo seja  evangelizado! E estamos perto de alcançar o resto não evangelizado!

      MAS, realmente 80% do mundo já é alcançado? Vamos olhar para um País exemplar — Kabuli, um dos maiores sucessos de missões na história, com 80% cristão. Evangélicos e pentecostais compõem 25% da população. Tem havido avivamentos grandes. Não é preciso mandar mais nenhum missionário para lá.
      POREM — Kabuli é outro nome para RUANDA! Um africano especialista diz que Ruanda é um exemplo de um Pais com a igreja evangélica que tem 30 km de extensão e um centímetro de profundidade! As igrejas evangélicas cresceram ao ponto de ter status e poder político no País. Mas, onde está o senhorio de Jesus Cristo? Por que há tanta tragédia, tortura e matança? Muitos estão perguntando: Como poderia ter acontecido tal massacre num País assim? Chegaram a concluir que era por duas razões principais:
1.   Cristianismo era apenas um verniz, uma cobertura superficial em cima de um estilo de vida secular em que os antigos valores eram em quase nada mudados.
2.   A igreja tinha uma liderança hierárquica, dominadora, sem discipulado dos crentes como verdadeiros sacerdotes. Era uma liderança elitista.
   Na opinião de Engel esta situação reflete a realidade na maior parte do mundo: materialismo, corrupção política, inclusive entre evangélicos, poucos ricos ficando cada vez mais ricos, destituição de pobres, cidades perigosas, moralidade que se aproxima a de Sodoma e Gomorra. Ele pergunta: Por que com tantos crentes tudo está piorando? Por que fica em silêncio a igreja frente este desastre que está acontecendo?
   Em Ruanda a superficialidade cristã levou os líderes e crentes a optar pela luta racial em vez de ser fiel ao Senhor. COMO FAZER? Como fazer para preparar e enviar missionários criados num ambiente semelhante, que vão ser e fazer discípulos perseverantes em situações terríveis, como Ruanda?
      Há algumas reflexões sobre isto, na luz de tudo que temos ouvido estes dias.
Nós não podemos prepara ou treinar ninguém!


 

A. Preparo depende do aluno, se ele quer aprender, ou sabe aprender. Isto implica:
1. Na seleção dos alunos.

2.   Na sensibilidade do professor em conhecer as capacidades de cada aluno e tentar começar o preparo a partir do seu nível.


B. Preparo depende de Deus— é Ele que prepara. Ele põe pessoas, experiências, tira, põe outras. Podemos fazer parte do currículo de Deus na vida de uma pessoa, mas reconhecendo que afinal de contas é Ele que trabalha com Seus servos em fazê-los aptos para o trabalho específico que tem para cada um.

O preparo nunca pára, e nunca chegamos a sermos "preparados". Sempre estamos no processo de aprendizado, professor e aluno (todos somos "alunos"). Temos que ter, e desenvolver nos alunos, atitudes de aprendiz — de como aprender, do gosto de aprender, do desejo de continuar aprendendo. Colossenses 1:9-12 mostra o cíclo de aprendizado e crescimento no conhecer e obedecer.

Assim nós, como professores, podemos ser modelos de como ser aprendiz e servo de Deus.


A. 1 Pe 5:3 diz que o pastor deve ser "modelo do rebanho".

B. Paulo diz para os gálatas que devem segui-lo, pois ele se tornou como eles (Gl 4:12). Ele deu tudo para eles, o Evangelho, e se necessário teria arrancado os próprios olhos para eles (vs 19). Paulo se investiu neles com o mais alto amor e preocupação pelo bem estar deles.

C. O modelo fala muito mais alto do que palavras. Então, como eu SOU

-Tenho paciência?

-Tenho zelo pelos alunos e pelas almas/povos?

-Tenho humildade, ou sou elitista também?

-Tenho perseverança nas dificuldades? Ou reclamo, desisto, rejeito?

-Tenho vida de oração e dependência no Senhor?

-Procuro conhecer e obedecer a Bíblia?

-Invisto minha vida para os outros?

Podemos passar informações (e o aluno vai aprender, dependendo da receptividade e capacidade, e da didática do professor)


 

  1. O que não devemos ensinar? Engel disse:

1.   Há uma omissão crítica no ensino da Grande Comissão - ". . . fazei discípulos de todas as nações, batizando-os e ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado". A ênfase tem sido na evangelização, mais que na formação espiritual e a transformação social, que são os resultados do Reino de Deus! "Tudo que Jesus ordenou" (Mt 28:19) inclui o que Ele falava e fazia para ensinar. Devemos tomar mais a sério o modelo que Ele deixou. Devemos zelar para que nossos alunos tenham profundo conhecimento da vida e do ensino de Jesus Cristo.


2.   Não deve fazer com que a evangelização mundial se torne um empreendimento controlável, baseado em ciências sociais e de empresas, como marketing, com alvos mensuráveis (só). O surgimento de lemas atraentes e ênfase apenas em crescimento numérico têm criado muito entusiasmo momentâneo. Muitos querem fazer tudo rápido, sem levar em consideração o preparo necessário.


3.   Não deve enfatizar uma obsessão com sucesso em termos de números, sem levar em conta a necessidade de levar a pessoa a compreender o Evangelho suficiente para ver as implicações para sua vida. Jesus Cristo tem que se tornar o Senhor da vida inteira - inclusive em relações econômicas, justiças social e integridade e santidade de vida cristã. Chegou a hora de largar o triunfalismo do sucesso estatístico, e voltar para a simplicidade e profundidade das diretrizes bíblicas.


4.   Não deve ensinar uma contextualização relativista, facilitando a entrada de sincretismo. Adaptação sem limites. Adaptamos o evangelho a agenda do consumidor, para ser aceitável, mesmo sacrificando princípios bíblicos. Enfatizamos os benefícios do evangelho, sem falar do custo. Vamos nos submeter ao relativismo do pós-modernismo, onde a Bíblia é relativa às culturas, ou vamos nos manter firmes seguindo uma hermenêutica que a própria Bíblia nos proporciona?


5.   Há o perigo de uma eclesiologia defeituosa. Que tipo de igrejas estamos plantando? A igreja leva a mensagem ao mundo, mas no mesmo tempo é a mensagem ao mundo. Precisamos de líderes-servos, e igrejas onde todos são ministros. Ensino sobre modelos de igreja do missionário - a igreja leva a mensagem e É a mensagem.


B.  O que devemos ensinar?

1.   Devemos ensinar o arroz e feijão de Cristianismo e missiologia. Muitas vezes esquecemos os assuntos básicos e substituímos novidades por ter novidades, ou conceitos exóticos apenas para ganhar a admiração dos alunos. A missiologia deve incluir conceitos de vida, comunicação e estratégias evangelísticas e de discipulado transculturais. Antropologia, Contextualização, Lingüística, Religião, História de Missões, Teologia Contemporânea de Missões, Estratégia Missionária, Missões Urbanas, Implantação da Igreja, Discipulado e Didática Transcultural são algumas matérias básicas para o futuro missionário. Ele deve aprender se despojar do seu etnocentrismo e aprender viver e comunicar de forma relevante e transformadora no meio do novo povo.


2.   Devemos ensinar Bíblia como base em toda a missiologia (2 Tm 3:14-17 e 4:1-5). A importância da integração de teologia e missiologia não pode ser enfatizada suficiente. Não podemos preparar o aluno de ter uma bagagem missiológica bonita, sem ter conteúdo dentro da bagagem—conteúdo sólido das verdades cristãs supraculturais. Este ensino deve incluir (a) a base bíblica da razão da própria missão da igreja e (b) o conteúdo do ensino a ser feito no campo missionário. Infelizmente muitos missionários quase iletrados quanto a Bíblia têm saído para trabalhar ao redor do mundo. Como vão "fazer discípulos"?


3. Devemos ensinar caráter cristão. Como "viver de modo digno do Senhor" (Ef 4:1) com os colegas e o povo receptor? Como, em humildade, investir com amor e esmerar na vida dos outros? Falta de caráter é uma das principais razões do retorno precoce do missionário, e deve ser levado a sério no preparo.


4. Devemos ensinar sobre os povos como são apresentados na Bíblia e na realidade, para conhecer nosso mundo da ótica de Deus— povos amados por Deus e necessitados de perdão e salvação.


C.  Como devemos ensinar?


1.   Muitas vezes ensino para o professor se resume em estar numa sala de aula, ensinando face a face. Queremos que o aluno aprenda o que estamos falando para poder repeti-lo do nosso agrado. Temos que ensinar para que o aluno aprenda a aprender, e tenha gosto de aprender. Como fazer isto?


2.   O melhor ensino acontece na vida, andando junto com o aluno, ombro a ombro no ministério do Senhor, como Jesus fez com Seus discípulos:

- aprendendo também no caminho

- ministrando juntos


- enfrentando a vida juntos em comunidade e comunhão no trabalho, no cotidiano e nas dificuldades.
Tudo isto se chama DISCIPULADO.


As soluções do Engel:


A.  Começa com conhecimento íntimo e profundo de Deus, manifesto na comunidade da Igreja. Os Apóstolos, na maioria morreram mortes violentas, com fidelidade e alegria (Aramis C. DeBarro. Doze Homens, Uma Missão, Ed. Luz e Vida, 1999). Por quê? Tinham estado com Jesus! O conheciam profundamente e sabiam por que estavam morrendo! Nosso treinamento, muitas vezes secularizado, tem a tendência oposta. Somos formais, preocupados com status, notas, diploma e posição. Esquecemos da alegria em servir o Senhor juntos.


B.  Evangelismo não é uma metodologia, mas o resultado de um estilo de vida baseado no profundo amor aos outros, respeito e prontidão de ouvir as seus mais profundos pensamentos e desejos. Um missionário em Portugal falou que a tendência é "evangelismo impessoal" em vez de "evangelismo pessoal".


C.  Não podemos pensar que de repente poderemos completar o evangelismo mundial. Esta urgência artificial faz com que pessoas não sejam preparadas, mas apressadamente vão aos campos.


D.  Os métodos seculares de empresa, tecnologia, e ciências sociais devem ser utilizados apenas para auxiliar o ensino. Temos que reconhecer que é o Espírito Santo que trás convicção, regeneração e santificação.


E.   Renovar a obediência a Grande Comissão na sua totalidade.


F.   Depender da intercessão.


G. Enfatizar o ensinamento bíblico sobre líderes que são servos.


H.  Deixar claro que a expansão do Reino inclui todas as camadas da sociedade, sem barreiras sociais dentro da própria igreja!


I.    Parar de depender, e criar dependência, das nações ricas para nos ajudar, compreendendo que há muitos recursos locais.


Oração  é essencial em todo processo. Oração é reconhecer  o poder do Espírito Santo e nossa total dependência em Deus. Parece que para mim o preparo para campos de risco requer muito poder - milagres, o sobrenatural, fé, e compromisso até o fim. Oração pelos alunos e com os alunos seria a chave para a vida de poder.
 
Parece que já ouvimos tudo isto muitas vezes. Mas creio que ainda pouco fazemos. Às vezes exige coragem para quebrar tradições educacionais e eclesiásticas para realmente cumprir o currículo de Deus nas nossas vidas e a dos alunos.


 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

TEXTO 8 – OS IRMÃOS MORÁVIOS

História do Avivamento Morávio – por John Walker

Disponível em http://www.pastorantero.com/2009/08/historia-do-avivamento-moravio-por-john.html

Este artigo sobre o avivamento morávio foi preparado e traduzido a partir de vários artigos de uma revista americana denominada "Herald of His Coming" (O Arauto da Sua Vinda). Deus tem prometido na Sua Palavra um derramamento do Seu Espírito nos últimos dias, e a preparação de uma igreja gloriosa para a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo. Ultimamente, Deus tem prometido através dos Seus profetas um avivamento para a terra do Brasil, e está convocando o Seu povo à oração intensiva para esse fim. Que esses relatos de avivamentos passados em outros países possam transmitir aos intercessores nas igrejas brasileiras uma visão mais clara e um peso mais profundo daquilo que Deus tem prometido realizar na nossa terra hoje, em resposta à oração perseverante.

ORAÇÃO TRAZ AVIVAMENTO
Se você ler a história de qualquer grande, obra do Espírito Santo encontrará ai uma história de oração. Oração, no Espírito, foi o segredo de todos os grandes avivamentos no passado — e será o segredo de todo o poder de avivamento que vier sobre nós nestes dias.

Aproximadamente há 250 anos um grupo de discípulos rixentos, contenciosos, discutidores e opiniosos, seguidores de Huss, Lutero, Calvino e outros reformadores, fugindo das perseguições mortíferas daquela época, achou asilo em Herrnhut, no patrimônio de um fidalgo abastado, o Conde Zinzendorf, situado na Alemanha Oriental. Este grupo tornar-se-ia conhecido como os "morávios" em conseqüência do fato de uma parte deles ter saído da província de Morávia, na Checoslováquia.

Embora fossem protegidos ali do mundo exterior, quem haveria de protegê-los das suas próprias paixões religiosas que ameaçavam destruí-los? Como poderiam se unir em fé e amor esses cristãos contenciosos que acabavam de achar um esconderijo no patrimônio do Conde Zinzendorf? Aparentemente era uma tarefa completamente impossível.

Contudo, oraram: No dia 5 de agosto de 1727, alguns desses irmãos passaram a noite toda em oração. A oração os levou a elaborar uma Aliança Fraternal a fim de "procurar e enfatizar os pontos em que concordassem" e não salientar as suas diferenças.

O amor fraternal e a unidade em Cristo seriam as correntes douradas que os ligariam uns aos outros. Todos os membros da comunidade apertaram as mãos uns dos outros e se comprometeram a obedecer aos estatutos da Aliança. Aquele dia foi o princípio de uma nova vida para eles.

No diário deles está escrito:

Neste dia o Conde fez uma aliança com o Senhor. Os irmãos prometeram, um por um, que seriam verdadeiros seguidores do Salvador. Vontade própria, amor próprio, desobediência — eles se despediram de tudo isso. Procurariam ser pobres de espírito; ninguém deveria buscar seu próprio interesse; cada um se entregaria para ser ensinado pelo Espírito Santo. Pela operação poderosa da graça de Deus, todos foram não somente convencidos, mas arrastados e dominados.

Depois de adotarem os estatutos e todos terem se comprometido à uma vida de obediência e amor, o Espírito de comunhão e oração foi grandemente fortalecido. Desentendimentos, preconceitos, alienações secretas, eram confessados e postos de lado. A oração muitas vezes tinha tanto poder que aqueles que haviam apenas confessado sua disposição ou aderido da boca para fora eram convencidos do pecado e compelidos interiormente a mudar de vida ou a irem embora.

No domingo, 13 de agosto de 1727, mais ou menos ao meio-dia, numa reunião onde se celebrava a ceia do Senhor, o poder e a bênção de Deus vieram de forma tão poderosa sobre o grupo inteiro que tanto o pastor como o povo caíram juntos no pó diante de Deus e "nesse estado de mente continuaram até a meia-noite, tomados em oração e cântico, choro e súplicas".

O Senhor Jesus lhes apareceu como Cordeiro… levado ao matadouro; traspassado pelas suas transgressões e moído pelas suas iniqüidades (Is 53:7,5). Na presença divina do seu ensangüentado e expirante Senhor, eles se sentiam inundados na consciência do seu pecado e da graça do Senhor ainda mais abundante. Suas controvérsias e rixas foram silenciadas; suas paixões e orgulho foram crucificados — enquanto fitavam atentamente as agonias do seu "Deus expirante".

A oração os uniu. A oração trouxe-lhes um novo derramamento do Espírito Santo; agora veremos como estas bênçãos, por sua vez, levavam-nos a uma vida mais profunda de oração:

Depois daquele dia destacado de bênção, o dia 13 de agosto de 1727, em que o Espírito de graça e súplicas havia sido derramado sobre a congregação em Herrnhut, surgiu o pensamento em alguns irmãos e irmãs de que seria bom separar horas determinadas para o propósito de oração, tempos em que todos pudessem ser relembrados do seu grande valor e incitados pelas promessas que acompanham a oração fervorosa a derramar os seus corações diante do Senhor.

Além disso, consideraram importante que, assim como nos dias da Velha Aliança nunca se permitiu que o fogo sagrado se apagasse no altar (Lv 6:12, 13), da mesma forma numa congregação que é o templo do Deus vivo, na qual Ele tem Seu altar e Seu fogo, a intercessão dos Seus santos deverá subir incessantemente a Ele como um incenso santo (1 Co 3:16; 1 Ts 5:17; Sl 141:2; Lc 18:7; Ap 8:3,4).

No dia 26 de agosto, vinte e quatro irmãos e o mesmo número de irmãs se reuniram e fizeram entre si uma aliança de continuar em oração a partir da meia-noite até na outra meia-noite, para isto repartindo as vinte e quatro horas do dia por sorte entre eles.

No dia 27 de agosto, este novo regulamento entrou em vigor. Outros foram acrescentados a esse número de intercessores, passando a contar com 77 pessoas, e até mesmo as crianças iniciaram um plano semelhante a esse entre elas. Os intercessores tinham uma reunião semanal na qual se lhes fazia uma lista daquelas coisas que deveriam considerar como assuntos especiais para a oração e para levar constantemente diante do Senhor.

As crianças todas sentiam um impulso sobremodo forte para a oração, e era impossível ouvir suas súplicas infantis sem ser profundamente comovido e tocado: Uma testemunha ocular diz:

Não posso explicar a causa do grande despertamento das crianças em Herrnhut de outra maneira que não seja um maravilhoso derramamento do Espírito de Deus sobre a congregação reunida naquela ocasião. O sopro do Espírito atingia naquele tempo, jovens e velhos igualmente.

INCENTIVO PARA EVANGELIZAÇÃO
Os quatro anos seguintes foram tempos de avivamento constante: A vigilância cuidadosa mantida pelos presbíteros e superintendentes, o tratamento fiel de almas individuais de acordo com suas necessidades pessoais, a manutenção zelosa do Espírito de amor fraternal, a contínua vigilância em oração, fizeram das reuniões dos irmãos tempos de grande alegria e benção. Eram tempos de preparação para a obra de evangelização mundial que estava para iniciar.

O bispo Hasse escreveu o seguinte:

Houve já em toda a história da igreja alguma reunião de oração tão extraordinária como esta que, começando em 1727, continuou vinte e quatro horas por dia, durante cem anos?

Oração deste calibre leva à ação. Neste caso, acendeu um desejo ardente de tornar a salvação de Cristo conhecida aos pagãos. Produziu o início do movimento missionário atual. Daquela pequena comunidade rural mais de cem missionários foram enviados num período de vinte e cinco anos.

Este era o fruto de oração e união de coração sem precedentes. Não era de se admirar os resultados espirituais sem precedentes também que sucederam. Daquela pequena aldeia de cristãos morávios saíram missionários a todo canto do mundo, levando consigo o fogo do Espírito.

Qual era seu incentivo para o trabalho missionário no exterior? Embora sempre reconhecessem a autoridade suprema da Grande Comissão (Mt 28:19), os irmãos morávios sempre enfatizaram como seu maior incentivo a verdade inspiradora encontrada em Isaías 53:3-12; fazendo assim do sofrimento do Senhor o impulso e fonte de toda a sua atividade. Desta profecia tiraram seu "brado da guerra" missionário: "Conquistar para o Cordeiro que foi morto a recompensa dos Seus sofrimentos."

Eles sentiam que deviam compensar o Senhor de alguma maneira pelos terríveis sofrimentos que suportou quando efetuou a salvação deles. A única maneira de retribuí-Lo é trazer-lhe almas. Quando trazemos-Lhe as almas perdidas, é a recompensa ou fruto do penoso trabalho da sua alma (Is 3:11).

CONVERSÃO DE JOHN WESLEY
Em 1736, um grupo de morávios estava viajando num navio com destino à América. Dois jovens ingleses, missionários anglicanos, estavam no mesmo navio. Sobreveio sob re eles um terrível temporal e era iminente um naufrágio. Leiamos o que um dos jovens, John Wesley escreveu no seu diário a respeito desse acontecimento:

Às sete horas fui procurar os morávios. Eu havia observado há muito a profunda seriedade do seu comportamento. Davam provas incessantes da sua verdadeira humildade em fazer aquelas tarefas servis para os demais passageiros que nenhum de nós suportaria; eles procuravam nos servir dessa forma e rejeitavam qualquer remuneração, dizendo que era bom para os seus corações orgulhosos e que o seu querido Salvador havia feito muito mais que isso por eles.

Cada dia que passava lhes dava oportunidade de demonstrar uma meiguice que nenhuma injúria poderia desafiar. Se alguém os empurrasse, batesse ou jogasse no chão, eles se levantavam e saíam; mas nunca se ouviu qualquer queixa ou resposta nas suas bocas. Agora se apresentaria uma oportunidade de ver se eles eram isentos do espírito de medo da mesma forma que o eram do espírito de orgulho, ira e vingança.

No meio do salmo com que iniciaram a sua reunião, o mar se ergueu, despedaçou a vela mestra, inundou o navio e as águas vieram jorrando sobre o convés como se um grande abismo estivesse nos engolindo. Irromperam-se terríveis gritos e uivos entre nós. Os morávios, porém continuavam a cantar tranqüilamente.

Perguntei para um deles depois: "Você não estava com medo? Ele respondeu: "Graças a Deus, não." Perguntei ainda: "Mas não estavam amedrontadas as mulheres e crianças?"Ele respondeu brandamente: "Não, nossas mulheres e crianças não têm medo da morte."

Quando ele voltou à Inglaterra, escreveu:

Eu fui à América para converter os índios; mas quem há de me converter? Quem é que me libertará deste coração mau de incredulidade? Tenho uma religião "de tempo bom". Sei falar bem; sim, e tenho confiança em mim mesmo quando não há perigo ao meu lado; mas venha a morte me enfrentar e meu espírito já se perturba. Nem posso dizer: "O morrer é lucro!"

Em Londres, Wesley procurou o conselho de um missionário morávio, Peter Bohler, e logo após, converteu-se. Em menos de três semanas, ele estava viajando para a Alemanha para conhecer o Conde Zinzendorf e passar um período de tempo em Herrnhut.

A VIDA DO CONDE ZINZENDORF
O Conde Zinzendorf, preparado tão maravilhosamente por Deus para treinar e guiar a jovem igreja no caminho missionário era marcado acima de tudo por um tenro, simples e apaixonado amor para o nosso Senhor Jesus. Convertido com a idade de quatro anos, ele escreveu naquela época: "Querido Salvador, sê meu e eu serei Teu". Ele escolheu como o lema da sua vida: "Tenho apenas uma paixão. É Jesus, Jesus somente".

O amor expirante do Cordeiro de Deus havia conquistado e enchido o seu coração; o amor que levou Jesus a morrer pelos pecadores havia entrado na sua vida. Ele não tinha outro alvo a não ser viver e, se preciso morrer também por esses pecadores.

Quando ele se encarregou de cuidar dos morávios, aquele amor foi o único motivo ao qual ele recorria o único poder no qual ele confiava, o único alvo para o qual ele procurava conquistar as suas vidas. O que o ensinamento, argumentos e disciplina nunca alcançariam, necessários e produtivos como fossem, o amor de Cristo realizou! Fundiu todos em um só Corpo; implantou em todos os desejos de abandonar tudo que fosse pecado Inspirou a todos com o anseio de testificar de Jesus. Dispôs muitos a sacrificar tudo — a fim de tornar aquele amor conhecido a outros, alegrando dessa forma o coração de Jesus.

O Conde Zinzendorf aprendera cedo o segredo da oração eficaz. Ele foi tão diligente em estabelecer círculos de oração que quando deixou o colégio de Halle, aos dezesseis anos de idade, entregou ao professor Francke uma lista de sete grupos de oração.

CARACTERÍSTICAS DOS MORÁVIOS
E os seguidores que Deus havia dado a Zinzendorf? O que havia neles que os capacitava a tomarem a liderança das igrejas da Reforma? Em primeiro lugar, havia aquele desprendimento e desligamento do mundo e das suas esperanças, o poder de perseverança e resistência, a confiança simples em Deus que a aflição e perseguição são destinadas a produzir. Esses homens eram literalmente estrangeiros e peregrinos na terra. Eram imbuídos do pensamento e Espírito de sacrifício. Haviam aprendido a suportar dureza e dificuldades e a olhar para Deus em cada problema.

Em cada detalhe das suas vidas — no negócio, no lazer, no serviço cristão, nos deveres civis — tomavam o Sermão da Montanha como lâmpada para os seus pés. Consideravam o servir a Deus como o único motivo da vida e faziam todas as demais coisas ocuparem um plano de segunda importância. Seus ministros e presbíteros deveriam supervisionar o rebanho rara averiguar se todos estavam realmente vivendo para a glória de Deus. Todos deveriam formar uma única irmandade, auxiliando e encorajando-se mutuamente numa vida sossegada e piedosa.

No entanto havia algo mais que isso que emprestava à comunhão desses irmãos seu poder tão maravilhoso. Era a intensidade da sua devoção e dedicação coletiva e individual a Jesus Cristo, como Cordeiro de Deus que os comprara com o Seu sangue.

Toda a sua correção uns dos outros e a sua confissão voluntária do pecado com o abandono do mesmo, vieram dessa fé no Cristo vivo, através do qual acharam no seu coração a paz de Deus e a libertação do poder do pecado.

Essa mesma fé os levava a aceitar, e a zelosamente guardar, sua posição de pobres pecadores, salvos pela Sua graça, dia a dia. Essa fé, cultivada e fortalecida diariamente pela comunhão na palavra, no cântico e na oração, transformou-se no alvo das suas vidas. Essa fé os enchia com tanto gozo que seus corações regozijavam no meio das maiores dificuldades, na certeza triunfante de que seu Jesus, o Cordeiro que morrera por eles, e que agora estava amando-os, salvando-os e guardando-os, minuto por minuto, poderia também conquistar o coração mais endurecido e estava disposto a abençoar até mesmo o mais vir pecador.

Em 1741 ocorreu algo que completou a organização da Igreja dos Irmãos e que selou a sua característica central — a devoção ao Senhor Jesus. Leonardo Dober havia sido por alguns anos o principal presbítero da igreja. Ele e alguns outros sentiam que seus dons peculiares o capacitavam mais para outro tipo de ministério.

No entanto, à medida que os irmãos do sínodo olhavam em redor, sentiam que seria difícil em extremo encontrar uma pessoa capaz de tomar o seu lugar. No mesmo instante veio o pensamento a muitos que poderiam pedir ao Salvador para ser o Presbítero Principal da sua pequenina igreja, e como resposta à oração, receberam a confiança de que Ele aceitara o cargo.

Seu único desejo era que Ele fizesse tudo que o presbítero principal fazia até aquela data — que Ele os tomasse como a Sua propriedade peculiar, que Ele Se preocupasse com cada membro individualmente, e cuidasse de todas as suas necessidades. Prometeram amá-Lo e honrá-Lo, dar-Lhe a confiança dos seus corações, e como crianças, ser guiados pela Sua mente e vontade.

Era uma nova e aberta confissão do lugar que sempre haviam desejado que Cristo ocupasse, não só na sua teologia e vidas pessoais, mas especialmente na Sua igreja. A igreja havia chegado agora a maioridade.

CONCLUSÃO
A história da igreja dos morávios foi contada como um exemplo. Nos primeiros vinte anos da sua existência ela realmente enviou maior número de missionários que toda a Igreja Protestante no mesmo período. Ela somente, entre todas as igrejas, procurou realmente viver a verdade: "que congregar a Cristo as almas pelas quais Ele morreu para salvar é o único objetivo pela qual a Igreja existe". Ela somente procurou ensinar e treinar cada um dos seus membros a considerar como seu primeiro dever para com Aquele que os amou: doar a sua vida para torná-Lo conhecido a outros.

Podemos identificar quatro princípios básicos ensinados pelo Espírito Santo nesta época da Sua grande operação:

1. Que a igreja existe para estender o Reino de Deus em toda a terra.

2. Que cada membro deve ser treinado e preparado para participar deste propósito glorioso.

3. Que a experiência íntima do amor de Cristo é o poder que capacita para este fim.

4. Que a oração é o segredo, a fonte, de tudo isto.

A "graça total" do nosso Senhor Jesus Cristo foi transmitida aos irmãos morávios através de uma revelação do sangue do expirante Cordeiro de Deus. O resultado foi o fogo do Espírito Santo, incendiando as suas vidas numa "dedicação total" para a evangelização do mundo.

Oração organizada, intensiva e perseverante trará hoje os mesmos resultados que trouxe naquela época.

Que o Espírito Santo, nestes dias de restauração em que estamos vivendo, faça-nos arder de amor e paixão pelo Senhor Jesus, e transforme-nos numa igreja gloriosa que O manifeste plenamente; e que assim os pecadores se convertam e se unam a esta comunhão de amor de Deus Pai que temos no Seu Filho Jesus Cristo.


 


 

As Missões Morávias

Por Alderi Souza de Matos

Disponível em: http://www.mackenzie.br/6979.html


Com o seu zelo por Cristo, os irmãos morávios escreveram uma das páginas mais nobres das missões cristãs em todos os tempos. Nenhum grupo protestante teve maior consciência do dever missionário e nenhum demonstrou tamanha consagração a esse serviço em proporção ao número de seus membros. Seu grande líder inicial e incentivador na obra missionária foi o piedoso conde alemão Nikolaus Ludwig Von Zinzendorf (1700-1760).


1. Um notável organizador
Numa viagem a Copenhague para assistir a coroação do rei dinamarquês Cristiano VI, o conde Zinzendorf conheceu alguns nativos das Índias Ocidentais e da Groenlândia. Regressou a Herrnhut, na Saxônia, a sede do movimento, cheio de fervor missionário e, em conseqüência disso, dois obreiros, Leonhard Dober e David Nitschmann, iniciaram uma missão aos escravos africanos em Saint Thomas, nas Ilhas Virgens, em 1732. Christian David e outros missionários foram para a Groenlândia no ano seguinte.


Em 1734, um grupo liderado por August Gottlieb Spangenberg (1704-1792) começou a trabalhar na Geórgia, no sul dos futuros Estados Unidos. No Natal de 1741, o próprio Zinzendorf visitou a América e deu o nome de Bethlehem (Belém) à colônia que os morávios da Geórgia estavam criando mais ao norte, na Pensilvânia. Essa cidade se tornaria a sede americana do movimento. O mais famoso missionário morávio aos índios norte-americanos foi David Zeisberger (1721-1808), que trabalhou entre os creeks da Geórgia a partir de 1740 e entre os iroqueses desde 1743 até a sua morte.


Herrnhut, na Alemanha, tornou-se um vigoroso centro de atividade missionária, iniciando missões no Suriname, Costa do Ouro, África do Sul, Argélia, Guiana, Jamaica, Antigua e outros locais. Em 1748, foi iniciada uma missão aos judeus em Amsterdã. Até 1760, o ano da morte de Zinzendorf, os morávios haviam enviado 226 missionários a dez países e cerca de 3.000 mil conversos tinham sido batizados. Outros locais alcançados posteriormente foram o Egito, Labrador, Espanha, Ceilão, Romênia e Constantinopla.


Em 1832, havia 42 estações missionárias morávias ao redor do mundo. Os nomes dos primeiros campos missionários mostram uma característica do trabalho morávio: em geral eram locais difíceis e inóspitos, exigindo uma paciência e dedicação toda especial, traço que até hoje caracteriza o trabalho missionário desse grupo.


2. Uma reunião de oração excepcional
O renascimento da igreja morávia, em maio de 1727, havia resultado em grande parte de uma forte ênfase na oração. Nos meses seguintes, um espírito de oração tomou conta da pequena comunidade evangélica. No dia 27 de agosto daquele ano, 24 homens e 24 mulheres comprometeram-se a orar uma hora por dia de forma seqüencial, de modo que sempre houve alguém orando por missões.


Essa "vigília de oração" sensibilizou Zinzendorf e a comunidade morávia a tentarem alcançar outros para Cristo. Seis meses após o início da vigília, o conde desafiou os companheiros a evangelizarem as Índias Ocidentais, a Groenlândia, a Turquia e a Lapônia. No dia seguinte, 26 morávios se ofereceram como voluntários para as missões mundiais, aonde quer que Deus quisesse levá-los.


A vigília de oração prosseguiu sem interrupção, vinte e quatro horas por dia, durante mais de 100 anos. Em 1792, sessenta e cinco anos após o início da vigília, a pequena comunidade morávia havia enviado 300 missionários até os confins da terra.


3. A teoria de missões de Zinzendorf
Zinzendorf estabeleceu alguns princípios que deveriam nortear a atividade missionária dos morávios. Eles são os seguintes:


a) Busquem os primeiros frutos. Zinzendorf dizia aos voluntários que partiam de Herrnhut: "Não tenham como alvo a conversão de nações inteiras. Simplesmente procurem pessoas interessadas pela verdade, que, como o eunuco etíope, pareçam prontas para abraçar o evangelho" (ver Atos 8.27-28). Assim, os missionários morávios não saíam para o campo com expectativas exageradas. Isso os capacitava a enfrentar muitas situações em que os frutos surgiam lentamente, mas também lhes proporcionava profunda alegria quando grandes números de pessoas estavam prontas para abraçar a Cristo. Associada a isso estava a sua dependência do Espírito Santo, que, como o verdadeiro evangelista, os conduziria a almas como Cornélio ou o eunuco.


b) Preguem a Cristo. "Em segundo lugar", instruía Zinzendorf, "vocês devem ser objetivos e falar-lhes sobre a vida e a morte de Cristo". Alguns missionários haviam ido para culturas pagãs e tinham tentado em vão ensinar teologia ou começar com verdades sobre Deus. Zinzendorf partia do pressuposto de que os pagãos já sabiam sobre Deus, mas precisavam conhecer sobre o Salvador, especialmente seus sofrimentos sobre a cruz.


c) Vão para os povos esquecidos. As primeiras pessoas buscadas pelos morávios foram os escravos negros. Nos anos seguintes eles foram para os leprosos, os esquimós, os índios, os africanos, e parecem ter sido os primeiros a buscarem sistematicamente a conversão dos judeus.


d) Pelo reino de Cristo. Os morávios têm buscado aumentar o reino de Cristo, e não a sua própria expansão denominacional. Inúmeras sociedades de cristãos zelosos das igrejas tradicionais da Europa e da Inglaterra oraram, contribuíram e forneceram voluntários para a causa missionária mundial dos morávios no século 18.


e) Sejam auto-sustentados. Hutton observou que, na missão das Índias Ocidentais, "por mais de cem anos ninguém recebeu um centavo da Igreja Morávia por seus serviços; cada um... primeiro tinha de ganhar o seu próprio sustento". Essa política era seguida em toda parte. Na década de 1750, uma carta do Suriname dizia: "O irmão Kam está colhendo café; o irmão Wenzel conserta sapatos; o irmão Schmidt está fazendo uma roupa para um freguês".


Conclusão
Com seu heroísmo, apego às Escrituras e consagração a Deus, os irmãos morávios, embora pouco numerosos, exerceram uma forte influência espiritual sobre outros grupos e movimentos protestantes, especialmente na Inglaterra.


A convivência com alguns morávios causou profundo impacto em João Wesley e contribuiu para a sua conversão e o surgimento do metodismo. William Carey, o pioneiro das missões batistas, os admirava grandemente e apelou para o seu exemplo de obediência. Eles também inspiraram a criação de duas das primeiras agências protestantes de missões – a Sociedade Missionária de Londres (1795) e a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804).