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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

AMAL – TEXTO 3

AMAL – TEXTO 3

ISRAEL E A MISSIO-DEI

Maisel e Márcia Rocha (orgs.)


 

Introdução

18Que o propósito de Deus é ligado à criação toda através das nações pode ser confirmado não somente observando-se a seqüência da estrutura de Gênesis 1-11, como também pela conseqüência de Israel como uma só nação. A lista na Tabela das Nações (Gênesis 10) nem menciona Israel. Israel está "no lombo de Arfaxade", isto é, está oculto num nome que não tem nenhuma relevância.19

No capítulo seguinte a esta passagem lemos que um dos descendentes deste era Terá, pai de Abraão. Portanto, Israel não poderia se ver como foco das nações, mas só deduzir que era apenas uma das nações na história. De fato, era o primeiro povo a se reconhecer como uma nação. Todos os outros impérios, como o Egito e a Babilônia, pensaram em si como o universo todo. Israel, então, segundo suas próprias Escrituras Sagradas, reconhece que sua origem biológica não era diferente de qualquer outro povo gentio (veja também Ezequiel 16.3). Não possui nenhum status sobrenatural nem por nascimento, nem pela história primitiva. De novo citamos von Rad [tradução] (1965:342):

"...a ação salvífica que começou em Israel foi desprovida de todo caráter mitológico por meio da inserção na Tabela das Nações. A história antiga bíblica, que tem como seu clímax o mundo das nações, dá a Israel o mesmo status de criatura que as nações, e exclui qualquer primazia mitológica designada a ele nos primórdios dos povos".

Portanto, Israel aceitou sua condição não como o propósito final de Deus, mas como seu meio de redenção, eventualmente, para todas as nações. Esta consciência de Israel ser uma entre muitas nações, então, conclui a história da criação e, por conseqüência, a história universal. Todas as nações são o alvo da preocupação e do propósito divino. As nações fazem parte integral do drama da obra e atividade de Deus. Não são meros enfeites incidentais no cenário da criação. Os atos de Deus são dirigidos para toda a humanidade no relato do inicio da história como também o relato comovente de seu fim, o livro de Apocalipse.

O Chamado de Israel, seu propósito e as condições da aliança:

São muitos os que se perguntam por que Deus escolheu o povo de Israel para ser seu povo especial ao longo da História. Será que Deus os amou mais? Desejou Ele abençoá-los e esquecer-se das demais nações do mundo?

O Senhor mostrou favor para com o povo judeu, em parte por causa da fé que Abraão, o patriarca fundador desta nação, possuía. Mas, o que é ainda mais importante, Ele escolheu os israelitas para que participassem de modo especial de Seu plano de redimir toda a Humanidade.

Com Suas promessas a Abraão, Deus deu início a um novo capítulo na história da Humanidade. O plano divino para a redenção humana, tanto a indivíduos, como a nações, não havia mudado. Ele apenas iniciou um método novo. Ele se identificaria de modo especial com o povo de uma nação específica. Ele viria a ser conhecido como o 'Deus de Israel'. Deus identificou-Se com Israel a fim de revelar-Se ao mundo.

A promessa feita a Abraão 'em ti serão benditas todas as famílias da Terra', é uma referência direta à vinda de Cristo, o Messias. Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão, é o Único por meio de quem todas as nações da Terra podem ser abençoadas. De modo que, ao escolher a nação de Israel, Deus estava decidido a alcançar, levantar, elevar e redimir todos os povos da Terra.

Ao passo que Jesus foi o cumprimento final direto da promessa divina, Deus quis usar Seu relacionamento especial com Israel para revelar Sua natureza ao Mundo. Graças ao trato de Deus com Israel, a raça humana pôde vislumbrar a glória do amor divino, assim como Seu poder, Sua paciência, Seu juízo e Sua justiça.

Em Gálatas 3:8, Paulo escreveu:

"Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, pré-anunciou o Evangelho a Abraão: 'Em ti serão abençoados todos os povos'".

Em Gênesis 12:2, Deus fez três promessas pessoais e específicas a Abraão (citadas anteriormente). Deus prometeu a Abraão poder para cumprir sua Missão e Seu poder protetor enquanto Abraão cumprisse a Missão que lhe havia sido confiada e o abençoou para que este, por sua vez, fosse uma bênção para os outros. Jeová libertou Israel da escravidão para que ele, por sua vez, fosse uma bênção às nações que o rodeavam. Deus revela, de forma progressiva, tanto suas promessas como seus propósitos.

Ao estabelecer seu pacto com Abraão e seus descendentes, Deus deu ao mundo informações acerca da sua natureza. Ele se dava a conhecer como Deus amoroso e misericordioso, mas também justo e reto. Ao intervir nos assuntos da humanidade mediante a linhagem abraâmica, Deus demonstrava sua recusa em olhar de braços cruzados à contínua degeneração da raça humana. Ele não permitiria que o homem destruísse a si mesmo sem esperança e sem conhecimento do seu Criador. Deus chamou a Abraão e a Israel com o fim de salvar todo o gênero humano, e não somente uma nação.20

A eleição de Israel não era nenhum chamamento para a superioridade, nem para o privilégio particular. A eleição de Israel não significava a rejeição das nações [...] Assim, Israel não era 'o escolhido', mas 'escolhido para'. Não era o seu caráter étnico que lhe dava uma posição única. Tanto que, o 'estrangeiro' que morasse dentro de Israel, participava plenamente na vida do povo. Freqüentemente eram até incluídos na história da salvação, como Melquisedeque, Balaão, Jó e Rute. A eleição de Israel implicava numa responsabilidade universal. O propósito da eleição é serviço e é inseparavelmente ligado à salvação das nações. O serviço especial da eleição se define numa função sacerdotal. Israel é chamado para ser um reino de sacerdotes no meio das nações (Ex 19.6) como testemunha à vista delas e intercessor a seu favor oferecendo sacrifícios de retidão (Dt 33.19). O testemunho de Israel para as nações seria a evidência de verdadeira separação, o sentido básico de "santo", para Deus. Israel teria um ministério de representante de Deus diante das nações.21

A "Missão Centrípeta"

Os filhos de Israel deviam ser sacerdotes santos que revelassem Deus às nações, e mediadores que as levassem a Deus. A natureza de sua missão era centrípeta. Deviam atrair outras nações a si próprios e também à obediência às leis divinas. Sua eficiência em realizar essa missão relacionava-se diretamente com sua própria obediência como povo de Deus.22

O "Fracasso" de Israel, os Profetas e o anúncio do Messias (Is 9.1-7)

Israel, chamado para receber as bênçãos de Deus e cumprir uma missão especial entre as nações da Terra, fracassou pela desobediência. Frustrou os propósitos de Deus, mas não os mudou. A desobediência do povo de Israel por toda a sua história impediu que se levasse a cabo sua missão intercultural. Com o tempo, até o conceito que tinham de si mesmos se deformou. Os judeus se concentraram em si mesmos e buscaram os falsos deuses das nações vizinhas. Esperaram séculos inteiros pelas promessas de Deus, mas negligenciaram a responsabilidade de alcançar as nações.

Nem nações nem indivíduos podem acumular continuamente as bênçãos de Deus e se esquecer das responsabilidades que essas bênçãos trazem. Com o tempo, os judeus começaram a ver-se como pessoas muito especiais para Deus por direito próprio. Passaram a crer que eram o único povo que agradava a Deus e, por conseguinte, que sua forma de vida era a única correta.

Esse conceito de santidade levou os judeus a um grande preconceito racial e cultural; perverteu a lei dada por Deus a Moisés, ao ponto de não tocarem nas pessoas estranhas à raça judaica. Como resultado dessa intolerância, os judeus chegaram a pensar que Deus não poderia receber os gentios sem que estes primeiro se convertessem ao judaísmo.23

Nos profetas, o amor e o interesse de Deus pelas nações são evidentes, como são os seus julgamentos sobre aqueles que cometem o mal, sejam eles israelitas ou gentios. Jonas é a estória da resistência de Israel contra seu papel missionário e da ruptura que Deus faz através desta resistência ao salvar os ninivitas (que eram inimigos reais e poderosos de Israel). Isaias tem muitas referências ao amor de Deus pelas nações e por todos os povos (Is 2.2-4; 11.9; 18.7; 19.16-25; 25.6-9). Ele fala sobre o ministério do servo de Deus em levar a luz e a salvação aos gentios (Is 42.1-6; 49.6) e afirma que Deus escolhera seu mensageiro das nações gentias também (Is 66.19-23).24

Era no contexto do fracasso vocacional de Israel e com a atitude profética, acima elaboradas, que os profetas apresentavam a sua mensagem. Esta continha tanto um aviso sobre o julgamento quanto uma promessa de misericórdia.25

Sempre que Israel se esqueceu de que Deus a havia escolhido com propósito de que falasse às nações, e as deixou de lado numa atitude de orgulho egoísta, profetas como Amós, Jeremias e Isaías atacaram violentamente a pretensão etnocêntrica do povo e o acusaram de subverter as verdadeiras intenções de Deus (veja especialmente Atos 7.9,10).

Os profetas de Israel foram ficando cada vez mais cônscios de que não seria apenas Israel que usufruiria os atos divinos de redenção. Deus forçaria o restabelecimento de Seu senhorio sobre as nações do mundo inteiro; os profetas desenvolvem esta idéia centripetamente, isto é, depois de seu resgate as outras nações peregrinam de volta a Sião, o monte do Senhor. Os profetas apresentam os membros das outras nações como voltando a Jerusalém, onde o Deus de Israel aparecerá como o Deus de todos os povos (veja Is 2.1-4; Miq 4.1-4; Jr 3.17; Is 26.6-9; 60; Zc 8.20).26

Às vezes a mensagem profética era corretiva, às vezes escatológica. Incluía promessas de conforto e esperança, mas também advertências sobre julgamento. Mas a mensagem dos profetas, embora o fosse principalmente, não era somente a de juízo. Era também uma mensagem de esperança e continha uma promessa de misericórdia e salvação. Aliás, a realidade do juízo era tão terrível e inevitável que o povo de Deus só podia se interrogar sobre a possibilidade de um novo homem que praticasse a vontade de Deus e mostrasse o caminho de retidão e justiça para Israel (Sofonias 3.12s), que se converteria com um novo coração (Ezequiel 36.26s). Desta interrogação, em face do juízo, surgiu a mensagem de esperança e, por conseqüência, a promessa de salvação.27

Malaquias o último dos profetas, nos quatros curtos capítulos do livro que leva seu nome, trás "uma denúncia atrás da outra contra a nação de Israel, a advertência de um dia iminente de juízo a ser anunciado por um precursor e a ser, então, instituído pelo 'mensageiro da aliança', o qual viria de repente ao templo e inauguraria uma nova era, não somente para o povo de Israel, mas para todo o mundo28.


 

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