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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

TEXTO 1 Introdução à Base Bíblica da Missão

TEXTO 1

Introdução à Base Bíblica da Missão

Maisel e Márcia Rocha (orgs.)


 

Missão e Missões têm suas bases na Bíblia, "sem ela a evangelização do mundo seria não apenas impossível, mas também inconcebível. A Bíblia coloca sobre nós a responsabilidade de evangelizar o mundo, dá-nos um evangelho a proclamar, diz-nos como fazê-lo e declara-nos o poder de Deus para a salvação de cada crente. Além disso, é fato notável na História, tanto na passada como na contemporânea, que o grau de compromisso da Igreja com a evangelização do mundo é proporcional ao grau de sua convicção sobre a autoridade da Bíblia".

A Bíblia nos dá o mandato
da evangelização do mundo, não apenas a Grande Comissão (por mais importante que seja), mas toda a revelação bíblica carrega tal ordem.

Há apenas um único Deus vivo e verdadeiro. Cerca de 4.000 anos atrás Ele chamou Abraão e fez uma aliança com ele, prometendo não somente abençoa-lo, mas abençoar, através de sua posteridade, todas as famílias da terra (Gn 12.1-4). Este texto bíblico é uma das pedras fundamentais da missão cristã, pois os descendentes de Abraão são Cristo e o povo de Cristo. Assim, também os profetas do A.T. profetizaram como Deus faria deste Cristo o herdeiro e a luz das nações. Quando Jesus veio, ele endossou estas promessas e profetizou que muitos viriam 'do Oriente e do Ocidente e tomariam lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus' (Mt 8.11; Lc. 13.29). Em antecipação da Sua ressurreição e ascensão Ele fez a tremenda reivindicação de que 'toda a autoridade no céu e na terra' fora dada a Ele (Mt 28.16). Foi em conseqüência de Sua autoridade universal que Ele ordenou aos Seus seguidores que fizessem discípulos de todas as nações, e isso os cristãos primitivos começaram a fazer quando o Espírito Santo da verdade e do poder veio sobre eles (At 1.8). Eles sabiam que Deus tinha superexaltado a Jesus; eles desejaram que Jesus recebesse a honra devida ao Seu Nome. Além disso, um dia Ele retornaria, portanto, o que deveria preencher o espaço entre a Sua vinda? A missão mundial da igreja! O fim da história só viria depois que o evangelho alcançasse o fim da terra (Mt 24.14; 28.20; At 1.8). Os dois fins coincidiriam.

Nosso mandato para a evangelização do mundo, portanto, é a Bíblia inteira. O cristão individual e as igrejas locais que não estão comprometidas com a evangelização do mundo estão contradizendo (por cegueira ou por desobediência) uma parte essencial na sua identidade dada por Deus.

A Bíblia nos dá a mensagem para a evangelização do mundo. Nossa mensagem vem da Bíblia. Ela nos é dada. Não temos permissão de inventa-la; ela nos foi confiada como um 'depósito' precioso, que nós, como servos fiéis, devemos guardar e distribuir à casa de Deus (I Tm. 6.20; 2Tm. 1.12-14; 2Co. 4.1,2). Por outro lado, não nos foi dada como uma fórmula matemática simples e exata, mas, antes, numa rica diversidade de formulações, na qual foram usadas imagens ou metáforas diferentes.

Portanto, há apenas um evangelho, no que todos os apóstolos concordam (I Co 15.1), mas que expressaram de diversos modos – ora sacrificial, ora messiânico, ora legal, ora pessoal, ora salvífico, ora cósmico, a mesma Mensagem. Temos de combinar fidelidade (estudando constantemente o texto bíblico), com sensibilidade (estudando constantemente o cenário contemporâneo). Só então poderemos esperar relacionar com fidelidade e relevância a Palavra com o mundo, o evangelho com o contexto, as Escrituras com a cultura.

A Bíblia nos dá o modelo
para a evangelização do mundo. Além da mensagem (o que temos de dizer), precisamos de um modelo (como vamos dize-lo). A Bíblia supre isso também: A Bíblia não apenas contém o evangelho: ela é o evangelho. Através da Bíblia o próprio Deus está evangelizando, isto é, comunicando as boas novas ao mundo. Você vai se lembrar da declaração d Paulo sobre Gênesis 12.3 que "a Escritura... preanunciou o evangelho a Abraão" (Gl 3.8). Toda a Escritura prega o Evangelho; Deus evangeliza através dela.

Se, portanto, as Escrituras são a evangelização divina, é evidente que podemos aprender como pregar o evangelho de Cristo em sua inteireza considerando como
Deus o fez. Ele nos deu no processo da inspiração um belo modelo evangelístico: homens falaram e Deus falou. Homens falaram de Deus (2Pe. 1.21) e Deus falou através de homens (Hb. 1.1). As palavras faladas e escritas eram igualmente de Deus e também deles. Eles usaram suas faculdades livremente, mas não distorceram a mensagem divina. Os cristãos desejam declarar algo semelhante sobre a Encarnação, o clímax da autocomunicação de Deus, "O Verbo se fez carne" (Jo. 1.14). Isto é, a Palavra eterna de Deus, que desde a eternidade estava com Deus e era Deus, o agente através do qual o universo foi criado, tornou-Se um ser humano. Ele Se tornou pequeno, fraco, pobre e vulnerável. Experimentou dor e fome, e Se expôs à tentação. Mas, tornando-se um de nós, não deixou de ser Ele mesmo. O divino foi comunicado através do humano. Ele se identificou conosco, embora não renunciasse à Sua própria identidade. E este princípio de 'identificação sem perda de identidade' é o modelo para todo o evangelismo, especialmente o evangelismo transcultural.

Resumindo, quando Deus falou nas Escrituras Ele usou a linguagem humana, e quando Ele nos falou em Cristo assumiu a carne humana. A fim de revelar-Se, Ele Se esvaziou e Se humilhou. Esse é o modelo de evangelismo que a Bíblia nos fornece. Há auto-esvaziamento e auto-humilhação em todo evangelismo autêntico; sem eles contradizemos o evangelho e deturpamos o Cristo que proclamamos".

A Bíblia nos dá o poder
para a evangelização do mundo. Sabemos como nossos recursos humanos são fracos em comparação com a magnitude da tarefa e quão blindadas são as defesas do coração humano. Conhecemos a realidade, a maldade e o poder pessoais do diabo e dos demônios sob seu comando. Para nós é um fato de grande solenidade que, na expressão de João, "o mundo inteiro jaz no maligno" (I Jo. 5.19). Pois até que sejam libertados por Jesus Cristo e transportados para o Seu Reino, todos os homens e mulheres são escravos de Satanás. Além disto, vemos o seu poder no mundo contemporâneo – nas trevas da idolatria e no temor dos espíritos, na superstição e no fatalismo, na devoção aos deuses que não são deuses, no materialismo egoísta do Ocidente, na proliferação de sistemas religiosos irracionais, na violência e na agressão, e na deterioração generalizada dos padrões absolutos de bondade e verdade. Estas coisas são obra daquele que é chamado nas Escrituras de mentiroso, enganador, caluniador e homicida. Como então participaremos da vitória de Cristo e derrotaremos o poder de diabo? Há poder na Palavra de Deus e na pregação do evangelho. Se as mentes humanas estão cegas, como poderão chegar a ver? Apenas através da Palavra criadora de Deus, pois foi Deus que disse que "de trevas resplandecerá a luz", que brilhou em nossos corações "para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo" (v.6)... Se Satanás cega as mentes das pessoas e Deus ilumina seus corações, em que podemos nós contribuir para este encontro? Entre os versículos 4 e 6, que descrevem as atividades de Deus e Satanás, o versículo 5 descreve a obra do evangelista: "Pregamos... a Cristo Jesus como Senhor". Considerando que a luz que o diabo quer evitar que as pessoas vejam e que Deus faz brilhar nelas é o evangelho, é melhor que o preguemos! Pregar o evangelho, longe de ser desnecessário, é indispensável. É o meio estabelecido por Deus para que o príncipe das trevas seja derrotado e a luz jorre nos corações das pessoas. Há poder no evangelho de Deus – o Seu poder para salvação (Rm. 1.16).

Sem a Bíblia, a evangelização do mundo é impossível. Pois sem a Bíblia não temos nenhum evangelho para levar às nações, nenhuma garantia para lhes dar, nenhuma idéia de como fazer a tarefa e nenhuma esperança de sucesso. É a Bíblia que nos dá o mandato, a mensagem, o modelo e o poder que precisamos para a evangelização do mundo. Portanto, vamos procurar nos reapoderar dela através de estudo e meditação diligentes. Vamos dar atenção aos seus mandamentos, captar sua mensagem, seguir sua orientação e confiar no seu poder. Vamos levantar nossas vozes e torna-la conhecida.1


Algumas definições:

Qual é a diferença entre 'Missão' e 'Missões'? Querem dizer a mesma coisa? São sinônimos? Alguns autores escrevem sobre a 'Teologia da Missão', enquanto outros discorrem sobre a 'Teologia de Missões'.

De fato missão e missões têm sua origem na discriminação entre a missio-Dei, a Missão de Deus, e a missiones ecclesiae, as 'missões das igrejas' feitas inicialmente no movimento conciliar (Conselho Mundial das Igrejas).
Nesse movimento, o conceito de missões estava atrelado à Trindade, ao próprio caráter de Deus e, provavelmente, em sua conferência em Willingen (1952), o termo missio-Dei começou a ganhar aceitação.2

Ainda segundo Bosch, citado por Carriker3, "Missão tem a ver com atravessar fronteiras. Descreve toda a tarefa que Deus designou à igreja para a salvação do mundo. É a tarefa da igreja em movimento, a igreja que vive para os outros, a igreja que está preocupada não somente consigo mesma, que se vira 'ao avesso' para alcançar o mundo. As fronteiras podem ser étnicas, culturais, geográficas, religiosas, ideológicas ou sociais. Missão ocorre onde a igreja, no seu desenvolvimento total com o mundo e a compreensibilidade da sua mensagem, dá testemunho por palavra e ação na forma de um servo, com referência à descrença, exploração, discriminação e violência, mas também com referência à salvação, cura, libertação, reconciliação e retidão. Evangelização é mais que um mero segmento de missão; é, antes, uma dimensão essencial de missão. É o âmago da missão cristã para o mundo.4
Missão é a realidade fundamental da nossa vida cristã... Nossa vida neste mundo é vida em missão. 5

Deus designou ter as boas novas de reconciliação comunicadas para 'toda criatura debaixo do céu' (Cl. 1.23). Missão é, especificamente, o cumprimento deste mandato: é uma resposta à busca humana pela integridade – a liberdade, a comunidade e a esperança.6

Missiologia: É a ciência ou o estudo de missões.7 Ou ainda 'o estudo das atividades salvíficas do Pai, Filho e Espírito Santo através do mundo, orientadas para trazer o reino de Deus à existência8.

Em relação à missão da igreja, a missiologia ajuda a igreja (e o missionário) a levar em conta o seu contexto missionário, de tal modo que o evangelho seja transmitido mais claramente em relação à audiência e mais fielmente em relação a Deus. Por isso, Orlando Costa se refere à missiologia como a 'criada da missão'.9


Conforme David Bosch, 'a 'missio-Dei' enuncia as boas novas de que Deus é um Deus para as pessoas. Missões (missiones ecclesiae: os empreendimentos missionários da igreja), se referem às formas específicas, relacionadas com os momentos, lugares ou necessidades específicas, da participação na Missio-Dei (p.10). Isso é, quando falamos de Missão referimo-nos às posturas específicas tomadas por indivíduos especialmente igrejas diante dos propósitos de Deus na história, por um lado, e seu contexto ministerial, por outro. Portanto, a Missão de Deus se torna o referencial para as missões'10.

Antes da igreja assumir sua tarefa missionária, reconhece que esta tarefa é subordinada primeiramente à missão de Deus (missio-Dei). A missão soberana de Deus chegará a Sua conclusão com a participação da igreja na promoção do reino sobre toda criação e todo povo. É na segurança da missão de Deus que a igreja assume a sua missão (missiones ecclesiae).

Não há dúvida de que a Missio-Dei tem início quando do estabelecimento da primeira crise humana, quando o homem criado para manifestar a Glória de Deus estava agora, caído e rebeldemente distanciado d´Ele.

Certamente a mensagem e o escopo dos capítulos iniciais de Gênesis, a saber, Gênesis 1-11, são universais quanto ao apelo e internacionais quanto ao público. Por acaso Deus não tratou com 'todas as famílias da terra' com graça salvadora quando agiu em três ocasiões específicas em Gênesis 1-11? Ou mais detalhadamente, não é verdade que depois da queda do homem, do dilúvio e do insucesso da torre de Babel Deus proclamou as magníficas mensagens de salvação em Gênesis 3.15; 9.27 e 12.1-3?

A linha dupla do fracasso do homem e da palavra especial da parte de Deus, oferecendo graça ou bênçãos, pode ser representada como segue:


 

O fracasso do Homem

 

A Bênção da Parte de Deus 

1. A queda (Gn 3) 

a. A promessa de uma Semente (Gn 3.15)

2. O Dilúvio (Gn 6-8) 

b. a promessa de que Deus habitaria nas tendas de Sem (Gn 9.25-27) 

3. A Dispersão (Gn 11) 

c. a promessa de bênçãos em escala mundial (Gn 12.1-3) 


 

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